A cruz escondida

Igrejas queimadas e vandalizadas em manifestações violentas no Chile

Resistir ao ódio

Quando o pináculo da Igreja da Assunção estava quase a tombar no chão embrulhado em chamas, jovens encapuzados em estado de euforia gritavam para os bombeiros: “deixa cair, deixa cair…” A imagem correu mundo no domingo, dia 18 de Outubro. A Igreja, na capital chilena, ficou destruída. No mesmo dia, outra igreja foi vandalizada. Os ataques sucedem-se, mas do Chile chega-nos uma mensagem de coragem e de confiança…

A notícia chegou com o alarido das tragédias. Aos poucos, a imagem da Igreja da Assunção envolta em chamas passou a estar no centro de todas as conversas. Assinalava-se o primeiro aniversário das manifestações de protesto que encheram durante semanas e semanas as ruas do país sul-americano. Grupos de jovens, a maior parte deles encapuzados, decidiram atacar duas igrejas. Uma delas foi a de Assunção, das mais antigas da capital, datada de 1876. Já tinha sido atacada no ano passado, em Novembro. As imagens correram mundo. Tal como os gritos de euforia que se escutaram perante o edifício em agonia.

No momento em que o pináculo da Igreja cedia ao calor das chamas e se inclinava para o chão, alguns encapuzados gritavam: “Deixa cair, deixa cair”… Palavras que feriram tanto quanto a destruição do próprio templo. O arcebispo de Santiago dizia, horas depois, que os cristãos chilenos “querem ser respeitados”, e que não aceitam ser “cidadãos de segunda”. Compreende-se a amargura destas palavras. Calcula-se que, desde Outubro de 2019 até aos dias de hoje, cerca de 60 edifícios da Igreja do Chile foram alvo de violência extrema. Antes disso, na véspera da visita do Santo Padre ao Chile, em Janeiro de 2018, em apenas 11 dias pelo menos 134 igrejas foram atacadas.

O padre Pedro Narbona, da paróquia da Assunção, reviveu neste domingo de Outubro os ataques de há um ano. Foi em Novembro de 2019. “Começaram a tirar pedras à imagem de Nossa Senhora, uma imagem que lá estava, até a decapitarem. Depois, começaram a empurrar o portão da igreja…” Entraram. Já nada os podia deter. “Destruíram tudo o que se podia destruir… retiraram móveis e tudo o que servia de barricada ou para incendiar lá fora e pegaram fogo a todas estas coisas no pátio…” O padre ainda conseguiu, no meio da confusão, do lixo, dos objectos queimados, recuperar os processos matrimoniais. “É chocante, porque, para eles, isto era só material para pegar fogo…”, disse o padre, segurando nas mãos alguns dos ‘dossiers’ com os processos.

 

“Até que se cansem…”

Agora, foi mais grave. O edifício ardeu. Para o padre Pedro Narbona, este ataque é também um desafio. Um desafio à coragem e perseverança dos cristãos. “O templo, sim… Podem destruí-lo, podem queimá-lo mas a fé é que é importante pois está enraizada no nosso coração. A paróquia é de cada um de nós. Nada tememos porque estamos cimentados sobre o amor de Cristo…” Há um ano, um grupo de jovens decidiu arregaçar as mangas e limpar as paredes da Igreja dos Santos Protectores, em Santiago do Chile, pintadas com palavras cheias de sangue e promessas de morte. Uma rapariga, adolescente, gravou uma mensagem num vídeo onde se vê o grupo empoleirado em andaimes com esfregonas e escovas nas mãos. Disse ela: “Gostaria de convidar todos os católicos que estão em casa, a sair. A sair para pintar a sua igreja e defendê-la. A cuidar dela se a atacarem. A voltar a pintá-la. Se a sujarem novamente, voltaremos a limpá-la. Até que se cansem. Porque nós importamo-nos com a nossa Igreja e queremos apoiá-la. Porque isto não é nosso, é de Deus. Não tenham medo. Tenham esperança. Não cedam perante o medo e as intimidações. E viva Cristo!” Desta vez, na Igreja da Assunção, serão precisos mais do que baldes e esfregonas. A violência contra os cristãos está presente também no continente sul-americano. Também no Chile a Igreja que sofre precisa da nossa ajuda.

Paulo Aido

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