A cruz escondida

Esteve cinco anos na cadeia por um crime que não cometeu no Paquistão

Uma história de perdão

Amjad Arif é um modesto condutor de riquexó no Paquistão. Foi preso, agredido pela polícia e condenado por um crime que não cometeu. Esteve cinco anos atrás das grades. Foi um tempo de medo e de oração. E de perdão. Arif, apesar de tudo o que passou, não tem palavras de ódio nem de ressentimento. A história de Arif é um exemplo da perseguição aos cristãos neste país mas é, sobretudo, um testemunho humilde de fé…

No dia 15 de Março de 2015, dois atentados suicidas em duas igrejas abalaram a cidade de Lahore. Pelo menos duas dezenas de pessoas perderam a vida e mais de 80 ficaram feridas. Foi em Youhanabad, um bairro de Lahore. Em resposta a esta tragédia, a população local procurou fazer justiça pelas próprias mãos. Dois muçulmanos foram linchados pela multidão. A polícia foi logo no encalce dos responsáveis pela morte desses dois homens. Dezenas de cristãos foram presos. Um deles foi Amjad Arif. Apesar de inocente, iria ficar cinco anos na cadeia. Na esquadra, relata agora Arif, os agentes da polícia agrediram os cristãos. “Insultaram, bateram e torturaram-nos com os cassetetes, acusando-nos de termos queimados os muçulmanos.”

 

Fidelidade…

Da memória desse dia na esquadra da polícia, o condutor de riquexó, pai de dois rapazes e de uma menina, lembra o momento em que os agentes retiraram a alguns dos cristãos os rosários que tinham consigo, num gesto de desprezo e humilhação, e como foram todos confrontados com a possibilidade de saírem imediatamente em liberdade se aceitassem converter-se ao Islão. Caso contrário, ficariam presos. “Eles pegaram nos rosários de três de nós e atiraram-nos para o chão. Fomos forçados a escolher entre a conversão ao Islão ou aceitar a culpa pelo assassinado dos dois homens.” Arif e os outros que estavam com ele na esquadra escolheram o caminho da fidelidade. “Nós mantivemos a fé no Deus vivo!”

 

Sempre o medo

Amjad Arif ficou preso. Foram cinco anos atrás das grades por um crime que não cometeu. Foi libertado em Janeiro deste ano, depois das famílias dos muçulmanos mortos pela multidão terem sido indemnizadas. Mas o medo da perseguição, o medo de uma nova prisão injusta ainda é real, ainda está presente como a sombra de um fantasma. Arif teme por si e pela sua família. “Depois de ter saído da prisão, fiquei fechado em casa durante três meses temendo a vingança das famílias dos muçulmanos… Finalmente, comprei um riquexó a prestações…” Mas as coisas continuaram a correr mal. “Uma noite, três pessoas que transportava, roubaram o riquexó e deixaram-me amarrado a uma árvore, depois de me terem tentado sufocar com o meu próprio lenço… Foi uma vingança das famílias das vítimas? Não sei…”

 

“Agradeço a Deus a vida…”

Para Amjad Arif, modesto condutor de riquexó, será impossível apagar da sua vida os cinco anos atrás das grades, o medo constante de ser vítima de violência na prisão, o receio pela vida da sua mulher e dos filhos cá fora, desamparados. Mas, também por mais anos que viva, será difícil esquecer também a união que presenciou entre os presos cristãos, os tempos de oração em conjunto na cadeia, a forma como juntaram as suas fraquezas para ficaram mais fortes. “Todos os dias, depois da chamada da manhã, costumávamos rezar durante uma hora, fazendo um círculo. À noite, às 20 horas, fechados nas celas, passávamos o tempo com orações pessoais…” O futuro continua carregado de nuvens negras. Arif sonha poder voltar a comprar um riquexó para voltar ao trabalho e assim sustentar a sua família. Apesar de tudo o que passou, Amjad Arif não tem palavras de ódio ou ressentimento: “Agradeço a Deus pelo dom da vida. Amo muito meus filhos, vivo para eles.”

Paulo Aido | www-fundacao-ais.pt

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