Octávio Carmo, Agência ECCLESIA
2020 começa com muitas sombras a pairar sobre a humanidade, uma “intensificação de tensões e violências”, como disse o Papa num dos seus mais importantes discursos do ano (sim, já), quando se encontro esta semana com os diplomatas que representam mais de 180 países, no Vaticano.
Numa espécie de “Estado do planeta”, foram muitas as questões abordadas e as preocupações manifestadas, numa longa intervenção que manteve, no entanto, um surpreendente fio condutor: a esperança. Muitos parecem ter desistido da humanidade, acham que é tarde demais, que nada do que possamos fazer, a um nível pessoal, terá impacto verdadeiro no futuro. E deixam para os outros aquilo que julgam ser impossível, agora.
A realidade, lida na sua crueza, exige respostas – tanto dos poderosos da terra, como de cada um, na sua rua, na sua comunidade. Francisco é um homem de fé, naturalmente, e é por isso que aponta para o que nos ultrapassa. Não para que possamos encolher os ombros ou deixar para depois o que se pode fazer hoje – mas para “antecipar os frutos deste desejo de paz, sabendo que a meta é possível”.
Um dos problemas abordados, aliás, não tem nada a ver com geopolítica internacional: o Papa alertou para uma cultura da divisão que se vê, cada vez mais, na linguagem de ódio amplamente usada na internet, por exemplo. Barreiras, divisões, tudo em nome da defesa da nossa “fortaleza”, vendo no outro um adversário a derrubar. Francisco, que tem levado totalmente a sério a sua vocação de “pontifex” (o que faz pontes), aponta outro caminho, que é bem mais exigente.
Ano após ano, temos celebrações que se repetem no nosso calendário e que, talvez por isso, nem sempre despertem o encanto da novidade que arrebata e surpreende. A esperança de quem constrói pontes, ainda sem saber quem as vai atravessar, mas confiando neles, é a melhor indicação para que 2020 seja, realmente, diferente.