A construção do bem comum, responsabilidade da Igreja

Reflectir sobre este tema é desde logo desafiante. Aparentemente abstracto é, no entanto, um assunto na ordem do dia embora nem sempre com o mesmo significado. Daí que importa colocar algumas questões para orientar esta reflexão. O que é o Bem Comum para a Igreja? E de que falamos quando falamos de Igreja? Da Instituição? Do Povo de Deus?

De acordo com a Doutrina Social da Igreja o Bem Comum é entendido como “o conjunto das condições de vida social que permitem, tanto aos grupos como a cada um dos seus membros, alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” ou ainda por outras palavras, “é o conjunto de condições que permitem e favorecem nos homens o desenvolvimento integral da personalidade”. Ou seja, trata-se portanto da construção de um conjunto de condições adequadas e flexíveis porque necessárias para que cada pessoa possa viver plenamente na dignidade que lhe é inerente.

Diz-nos ainda a Doutrina Social da Igreja que a responsabilidade de construção deste conjunto de condições é de cada um de nós em particular e de cada sociedade em geral. Fácil é deduzir que é também responsabilidade da Igreja. Mas julgo que é bom ir mais além porque será a Igreja a ter esta Missão (a da construção do Bem Comum) ou há uma Missão anterior à própria Igreja?

Estou em crer que se trata de uma missão anterior à própria Igreja porque se na sua génese está Jesus, o Filho de Deus feito Homem, e se acredito que este (O Homem) está feito como imagem e semelhança de Deus então é necessário tirar daí consequências. Logo, não basta criar condições para humanizar os contextos em que vivemos mas é necessário sonhar e concretizar condições para que possamos divinizar a humanidade em geral e cada contexto em particular.

Assim sendo, falar de bem comum, é muito mais que falar de condições materiais que permitam uma vida justa e com igualdade de oportunidades (considero que estas também são fundamentais). É acima de tudo aceitar o desafio de estar sempre alerta para denunciar toda e qualquer condição que impeça o homem e a mulher de viver todo o potencial que encerra em si mesmo, no seu contexto e no seu tempo. É, para além da denúncia, o anúncio de possibilidade se trilhos de esperança que ajudem o homem e a mulher a encontrar motivos e razões que os levem a sair de si para, em conjunto com outros próximos, construírem estruturas de comunhão onde ninguém fique para trás.

Se a Igreja poderia viver sem ser em prol da construção do Bem Comum? Provavelmente podia mas não seria a mesma coisa; não seria Igreja organização ao serviço do Homem imagem e semelhança de Deus. Por isso, sim é responsabilidade da Igreja agir no sentido de consciencializar estruturas e pessoas para a necessidade e responsabilidade de todos e de cada na criação das condições necessárias para que o desenvolvimento de cada pessoa seja pleno porque divino.

Dir-me-ão que este é o caminho que está a ser feito. Sim é verdade, ainda que com altos e baixos, típicos de um povo que caminha. Mas é fundamental ter um olhar atento e questionar porque é que no momento de tão grande progresso civilizacional, tantas Pessoas vivem abaixo do limiar da sua dignidade?

É inegável que a Igreja tem assumido de múltiplas formas esta sua responsabilidade que lhe é intrínseca, quer através do pensamento que produz (a título de exemplo vejam-se as interpelações lançadas nas duas últimas encíclicas e as implicações que delas podem surgir se levadas à prática), quer da sua acção concretizada nas formas mais espontâneas às mais organizadas. No entanto, nunca será demais lembrar que a Igreja somo nós e como tal, a responsabilidade na Construção do Bem Comum, é bem concreta porque se enquanto homens e mulheres “fomos criados como plenitude e sentido da criação” por outro lado todos estamos chamados a ser “co-criadores desta obra que é de todos”.

Henrique Joaquim, Universidade Católica Portuguesa

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