A caminho de uma vida mais bela

Mensagem do Bispo de Santarém para a Quaresma 2006 Caros fiéis da Igreja diocesana de Santarém: Como nos anos anteriores, venho dirigir-me a vós no início da Quaresma para vos convidar a preparar e a viver o Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo, pois este constitui o coração e o fundamento da fé que professamos. Por Mistério Pascal ou Páscoa, entendemos a entrega do Senhor por nós na cruz e a vitória da Ressurreição que nos santifica. “Morrendo destruiu a morte e ressuscitando restaurou a vida”afirma a liturgia. Podemos afirmar que seremos verdadeiramente cristãos quando compreendermos e vivermos o Mistério Pascal. A fé cristã nasce da Páscoa e revitaliza-se nesta fonte. Na cruz e na ressurreição do Senhor encontramos a maior prova do amor de Deus que nos deu o Seu Filho para remissão dos pecados e para nos transformar em novas criaturas. Na Páscoa, coração da nossa fé, está a beleza do amor que salva, a fonte de esperança que constantemente nos renova, o apelo à vida segundo o Espírito que nos santifica. “Assim como Jesus ressuscitou dos mortos, mediante a glória do Pai, assim caminhemos também numa vida nova” (Rom 6,4). A Páscoa é a afirmação da vida plena, bela, livre, irradiante de luz. Para alcançarmos a vida nova da Páscoa precisamos de uma preparação espiritual. Com essa finalidade a Igreja estabeleceu a Quaresma. Assim compreendeis a razão desta mensagem quaresmal: Como Bispo, chamado a confirmar a vossa fé, sinto a responsabilidade de vos apoiar no caminho da preparação quaresmal em direcção à renovação da Páscoa. Dia do Senhor e dia do homem. A novidade e a beleza da Páscoa estão sempre presentes na vida da Igreja e são continuamente oferecidas aos fiéis. Desde as origens do cristianismo, os crentes começaram a reunir-se no primeiro dia da semana, que corresponde ao nosso domingo, para celebrarem a ressurreição do Senhor e a Sua presença no meio de nós. O domingo, pela celebração da Eucaristia, actualiza a alegria e a beleza da Páscoa, confere luz e grandeza à existência quotidiana, renova o nosso coração e a nossa mente com a Palavra, alimenta-nos com o Pão da vida. Assim, o domingo é o dia do Senhor e é também o dia do homem. Sem a Eucaristia dominical a nossa existência seria pobre, mesquinha e sem horizontes. Por isso, a Igreja recomenda com tanta insistência para participarmos na Missa de cada domingo. A participação plena e consciente na celebração do mistério da Eucaristia exige uma preparação litúrgica e espiritual que proporcione a aprendizagem ou iniciação a várias dimensões da fé que, frequentemente, não estão adquiridas, como: aprender a escutar Deus na Palavra da Escritura; o diálogo com Deus pela oração; a consciência da presença real de Cristo no pão e no vinho consagrados; o memorial da ceia, da morte e da ressurreição do Senhor; etc. Como este ano estamos a celebrar os trinta anos da Diocese, dando uma atenção especial à Eucaristia como centro e fonte de vida cristã, recomendo vivamente a realização das seis catequeses quaresmais que foram publicadas com esta finalidade. Poderão ser reflectidas em pequenos grupos, ou em comunidade ou pessoalmente. Da Ceia do Senhor ao amor fraterno. O amor de Deus contemplado na Eucaristia é indissociável do amor ao próximo. Da Eucaristia nasce a força da fraternidade que não é uma mera filantropia ou resposta a uma convicção ideológica, mas uma exigência da fé: “A união com Cristo é, ao mesmo tempo, união com todos os outros a quem Ele se entrega. Eu não posso ter Cristo só para mim; só lhe posso pertencer se unido a todos aqueles que se tornaram ou tornarão seus” (Bento XVI, Deus caritas est, nº 14). A comunidade, congregada para a Ceia do Senhor, é enviada a dar visibilidade, a tornar operante a caridade de Cristo no meio da sociedade. A melhor forma de testemunharmos a nossa fé em Cristo vivo que, na Eucaristia, nos congrega, nos alimenta e nos envia, é a de nos deixarmos configurar pela Sua Palavra e pelos Seus gestos, no acolhimento atento de todos, na relação afável, na busca dos que sofrem, dos que são excluídos, dos mais abandonados, à imagem do Bom Pastor que vai à procura da ovelha perdida. O anúncio da verdade da Eucaristia depende, em boa medida, da visibilidade da mesma no agir dos cristãos. Penso que, a partir de um testemunho mais autêntico, as crianças e os jovens que, muitas vezes, questionam a participação na Eucaristia, poderiam captar mais facilmente a verdade profunda deste sacramento. A caridade deve decorrer, portanto, da nossa fé na Eucaristia que nos convida a ir ao encontro do outro, a começar pelo mais pobre. Convido as comunidades cristãs, neste tempo favorável para a conversão, a repensar as práticas da caridade de modo a dar-lhes expressão significativa na nossa cultura. A prática da caridade não é uma opção facultativa na vida da Igreja, é, antes, uma experiência que decorre da sua natureza, no seguimento de Jesus, tão importante como a celebração dos Sacramentos e o anúncio do Evangelho (Cf Bento XVI, Deus caritas est, nº 22). As práticas quaresmais da Tradição viva da Igreja ajudam-nos a percorrer este caminho de conversão à beleza do amor de Cristo. O jejum e a partilha fazem-nos sentir que não podemos viver só, nem fundamentalmente, na busca da satisfação das nossas necessidades – “nem só de pão vive o homem” – mas que somos chamados a renunciar para dar espaço ao outro no nosso coração e na partilha efectiva dos bens. Viver em Cristo e a partir de Cristo exige uma atitude orante profunda, alimentada pela Palavra de Deus. A Quaresma é um tempo privilegiado para a escuta da Palavra de Deus que configura o nosso coração com a compaixão do Bom Pastor. A escuta da Palavra só é possível no silêncio; não um silêncio vazio, mas o silêncio onde o Espírito fala. O eixo da nossa espiritualidade, como é evidente, é a celebração consciente e frutuosa da Eucaristia. Importa cuidar sempre da sua beleza e da sua verdade, vivendo-a na celebração e na vida. Também neste tempo seremos convidados a celebrar sacramentalmente a Reconciliação. Este sacramento é fundamental em ordem a uma participação plena e profunda na Eucaristia. A graça do sacramento da Reconciliação refaz em nós a comunhão e impulsiona-nos para a vivermos mais intensamente. O fruto da renúncia quaresmal deste ano será partilhado com duas instituições necessitadas de ajuda: 1- a “Comunidade Vida e Paz” dedicada aos “Sem Abrigo” orientada pela Irmã Maria Gonçalves Martins; 2- um projecto de apoio a crianças “da rua” de uma favela brasileira, diocese de Paraiba, onde trabalham padres combonianos conhecidos. No ano passado a renúncia totalizou 32.683,70 Euros entregues a quem estava prometido. É o amor vivido na entrega e na partilha, a exemplo de Cristo, que dá beleza à vida humana. Este é o sentido do percurso da Quaresma. Por isso, nos é recomendada a renúncia ao egoísmo, à vaidade, ao azedume. “Não vos conformeis com este mundo mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” (Rom 12, 2). Uma santa Páscoa vos deseja o vosso Bispo, Santarém, 25 de Fevereiro de 2006 +Manuel Pelino Domingues, Bispo de Santarém

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