A Arte de Roubar de Leonel Vieira

Não senhora. Não rouba nem ensina a roubar. Mas leva-nos qualquer coisa este novo filme de Leonel Vieira. Leva-nos a atenção para a vantagem de encarar o cinema português com tradição e actualidade, lembrando-nos não só que é bom mas necessário saber conjugar veia artística e brilho comercial. Sem ser uma obra-prima, “A Arte de Roubar” é um simpático e divertido retrato ambientado na muito genuína região de Alcochete, sobre dois típicos pelintras cujos incansáveis planos de roubo saem invariavelmente gorados: Chico Silva e Fuentes não são bandidos só à portuguesa, como se diz por aí, mas daquela massa sem pátria, misto ameaçador e ingénuo, pouco esperto mas resolvido, catastrófico e sonhador que tantas vezes vimos nos filmes de Tarantino e dos irmãos Coen de quem Vieira é visível, incondicional e declaradamente fã. Escapando à acidez corrosiva dos seus favoritos, Vieira adapta-se bem à brandura dos nossos costumes, levando o último golpe da vida de Chico e Fuentes, o roubo de um valioso Van Gogh, a bom porto. Podia ser um pouco mais rápido e ritmado, podia ter economizado algum uso de calão e sido mais generoso na substância dos diálogos, mas está bem: as peripécias de Chico e Fuentes, criadas em co-autoria por um dos nomes mais ligados ao humor português de, pelo menos a última década – João Quadros – são um lícito divertimento ao longo de duas horas. Com a devida vénia também ao trabalho de Ivo Canelas, sobretudo, e a Enrique Arce não vamos esquecer tão depressa aquelas duas figuras e um quase roadmovie nacional. Margarida Ataíde

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top