Alerta do bispo de Viseu na Festa de S. Mateus Na festa de S. Mateus, padroeiro da cidade de Viseu, D. António Marto referiu na homilia da celebração que não iria falar de como se deve governar a cidade, mas sim oferecer uma meditação, que intitulou “a amizade pela cidade e na cidade”, partindo das leituras proclamadas sobretudo do Evangelho que relata o encontro de Jesus com Mateus. Este encontro de Jesus com Mateus – afirmou o bispo de Viseu -“não foi algo de meramente privado, teve uma dimensão comunitária que se repercutiu em toda a cidade. Jesus introduziu uma novidade na vida da cidade de Cafarnaum (…). O Senhor introduz nesta cidade a misericórdia, que é uma virtude de fundo, que significa querer bem ao outro como tal”. Com a presença do Presidente da Câmara Municipal de Viseu, Fernando Ruas, dos vereadores, dos funcionários camarários e de muitas outras pessoas, cumpriu-se a tradição de celebrar com solenidade, no feriado municipal, (21 de Setembro) a Festa de S. Mateus. D. António Marto citou, de seguida, La Pira, filósofo, teórico, poeta da cidade, presidente da câmara de Florença em Itália, em 1954, que escreveu: “As cidades têm um rosto próprio, têm por assim dizer uma alma e um destino próprio, não são meros armazéns de pedra, são misteriosas habitações dos homens e mais ainda, de certo modo, misteriosas habitações de Deus.” (…)“Não é verdade que a pessoa humana se realiza na cidade, se enraíza na cidade como a árvore se enraíza no solo? Que a pessoa humana se enraíza nos elementos que constituem a vida da cidade? No templo, para a sua união com Deus, e a sua vida espiritual? Na casa, para a sua vida de família? Na oficina, para a sua vida de trabalho? Na escola, para a sua vida intelectual? No hospital, para a sua vida física saudável? Nas praças, para a sua vida de lazer e de convívio?”. Daqui derivam, segundo o Bispo de Viseu, alguns compromissos concretos, tais como: “Aprender a viver na cidade como numa casa comum; manter a cidade limpa e bela; participar na sua vida social e cultural; empenhar-se em iniciativas para cultivar as relações entre pessoas e grupos para além das suas afinidades naturais, ou das afinidades próprias de cada um e de cada grupo”. “Neste contexto – continuou o Bispo da Diocese – coloca-se de modo particular a missão da nossa Igreja, das nossas comunidades cristãs, de cada comunidade cristã da cidade: a de criar laços de amizade para além das afinidades naturais, para constituir aquele tecido de referência que dá suporte de fundo ao sentido cívico e moral de uma cidade. Daqui deriva também um compromisso, um empenhamento para todos, de criar canais de comunicação, por exemplo, entre os lugares de trabalho e os de tempo livre, entre os lugares de sofrimento e os da solidariedade e do voluntariado, entre as prisões e a chamada boa sociedade, entre as instituições culturais e a gente comum, entre os marginalizados e aqueles que são ricos de relações”.