Moçambique: Bispo de Pemba alerta para violência terrorista e «drama da fuga» de populações em Cabo Delgado

«Não podemos ficar sem fazer nada», adverte D. António Juliasse, que fala no perigo futuro da fome, sede e doenças

Foto: Lusa

Cabo Delgado, Moçambique, 22 fev 2023 (Ecclesia) – O bispo de Pemba alertou para a violência terrorista que atinge a região de Cabo Delgado, no norte de Moçambique, e descreve o “drama da fuga” vivido pelos milhares de homens, mulheres e crianças que procuram escapar aos ataques.

“A violência perpetrada neste distrito [Chiúre] nas duas últimas semanas foi de tal forma que cerca de uma dezena de aldeias, algumas muito populosas, foram visadas, com destruição de habitações e instituições”, relata, numa mensagem enviada à Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS).

D. António Juliasse denuncia que “todas as capelas cristãs foram destruídas” nas aldeias e que “o ponto mais alto até agora foi feito a Mazeze, o posto administrativo do distrito de Chiúre, com a destruição de tantas infraestruturas públicas e sociais do governo”, além da missão, que dava “muito apoio social ao povo da região”.

Assiste-se agora a um “autêntico êxodo populacional”, conta o bispo de Pemba, como mostram imagens enviadas à fundação pontifícia nas últimas horas.

Centenas de pessoas são vistas a caminhar pelas bermas da estradas durante a noite na região de Chiúre, a carregar pertences, sendo que muitas delas procuram refúgio na província de Nampula, adjacente a Cabo Delgado, informa a AIS.

“Fogem as populações das aldeias já reduzidas a cinzas, como fogem também as populações das aldeias que ora se veem postas ao risco de serem atacadas. Muitos fazem um caminho que só tem a certeza do ponto de partida. Vão em busca de um lugar seguro. Não sei onde o encontrarão… se calhar, [apenas] o menos inseguro”, lamenta D. António Juliasse.

O bispo fala em rostos “atónitos, tristes”, de pessoas em “desespero”: “Carregam alguma trouxa na cabeça ou na única bicicleta familiar. É tudo o que agora lhes resta. Certamente não tarda que chegue a fome, a sede e as doenças”.

São pessoas que fogem para não terem “a mesma sorte dos que foram degolados e baleados”, refere.

Foto: AIs

O bispo de Pemba deixa o apelo para que a comunidade internacional não deixe cair no esquecimento a situação que se vive em Cabo Delgado.

“Definitivamente não podemos ficar sem fazer nada”, adverte, dizendo que “o risco maior é serem rostos esquecidos em função de outras guerras no mundo”.

D. António Juliasse dá conta que a diocese pediu aos missionários dos locais atacados, que também se encontram deslocados, e os que estão em locais de acolhimento para acompanharem as populações em fuga e para procurarem ajudá-las nas suas necessidades.

“Sem a generosidade e a partilha de todos, não podemos ser úteis”, apela.

No ângelus deste domingo, o Papa Francisco alertou para a nova onda de violência em Cabo Delgado e, na mensagem enviada à AIS, o bispo de Pemba faz referência ao momento: ““Aproveito para agradecer profundamente a proximidade do Papa Francisco para com o povo de Moçambique e especialmente de Cabo Delgado”.

“O seu pronunciamento foi, para nós, como um bálsamo, um alívio imediato, um afago e um conforto. Anuímos o seu convite de orarmos pelo fim das guerras no mundo inteiro”, manifestou.

LJ/OC

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