Igreja: «Ministro» da Cultura do Vaticano questiona visões de futuro da humanidade baseadas na tecnologia

Cardeal Gianfranco Ravasi sublinha necessidade de diálogo entre ciência e teologia para responder a questões inéditas

Foto: Samuel Mendonça/Folha do Domingo

Albufeira, 31 jan 2018 (Ecclesia) – O presidente do Conselho Pontifício da Cultura (Santa Sé) questionou, em entrevista à Agência ECCLESIA, as visões de futuro da humanidade baseadas exclusivamente na tecnologia, alertando para as questões inéditas levantadas pela evolução neste campo.

“Chega-se ao ponto, que considero absurdo, de se introduzir na Europa o conceito de personalidade eletrónica. Estamos perante algo, em si, muito positivo, para o desenvolvimento social, técnico, da produção, mas implica igualmente o surgimento de interrogações”, assinala o cardeal Gianfranco Ravasi, a respeito da chamada ‘inteligência artificial’.

O responsável do Vaticano marcou presença, na tarde de terça-feira e esta manhã, na jornada anual de formação do clero do sul de Portugal, a decorrer em Albufeira.

D. Gianfranco Ravasi aponta limitações a propostas como as de Stephen Gould, no princípio designado como ‘NOMA’, ‘Non-overlapping magisteria’ (magistérios que não se sobrepõem).

“Para explicar a pessoa humana não basta o nível científico, são precisos mais magistérios. Gould dizia que não se sobrepunham, eram independentes, não-conflituais, mas eu diria que isto não é completamente verdade. O sujeito é sempre o mesmo e o objeto é o mesmo, pelo que acontecem fenómenos em que [os magistérios] se enredam, confrontos entre a teologia e a ciência”, precisa.

O cardeal Ravasi sublinha a importância do diálogo neste campo, propondo “uma visão mais completa, mais universal, mais humana” aos cientistas.

“Não basta responder à pergunta ‘como é que isto acontece?’, é preciso questionar: ‘porque é que eu faço isto?’”, defende.

O colaborador do Papa entende também que a Igreja não pode, “com base em receios”, pronunciar só “julgamentos negativos”.

As intervenções sobre o ADN e a evolução das neurociências foram outros campos abordados pelo cardeal italiano, para quem o discurso teológico de estar presente, “sem demonizar, porque há dados positivos”, mas fazendo notar a sua “defesa da figura humana”.

O presidente do Conselho Pontifício da Cultura sustenta que a Igreja Católica deve procurar envolver-se com a sociedade, “não só teoricamente mas também em concreto”, como na questão das migrações.

Neste sentido, deixa um alerta contra fundamentalismos e populismos “verdadeiramente racistas”, que considera “anticristãos”.

OC

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Agência ECCLESIA

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