«Comprometidos com a história e com o Reino de Deus»

Mensagem de Advento/Natal de D. Manuel Linda, bispo das Forças Armadas e das Forças de Segurança

Caríssimos homens e mulheres que servis as Forças Armadas e as Forças de Segurança, entramos numa altura do ano religioso deveras importante. Denomina-se Advento/Natal. É o início de um novo ciclo litúrgico, pois, para nós, a novidade absoluta começa com a vida física de Jesus. Mas é também o tempo novo da história, já que o Salvador não entrou nela para que tudo continue igual.

Permiti uma breve reflexão sobre este tema.

A palavra advento significa «vinda» e natal, simplesmente, «nascimento». É a vinda de Jesus à história da humanidade mediante o seu nascimento como qualquer bebé. O que é sempre encantador. Daqui a ternura, a familiaridade, o enlevo com que celebramos o Natal.

Mas a Igreja convida-nos não tanto a olhar para o passado, mas a descobrir, hoje, os sinais da presença do Filho de Deus. Chama-nos a confrontar este nosso tempo com a mentalidade que se vivia há dois mil anos, quando Ele nasceu. E que descobrimos? No domínio das tecnologias e do saber, uma alteração fulgurante. E no âmbito mais especificamente humano dos valores, da liberdade responsável, da fé como projecto de vida, da sociedade como família? Também aqui muito mudou, de facto. Mas não poderíamos estar bem melhor?

O problema põe-se aqui. O Advento é muito comprometedor para nós, os crentes, pois nos responsabiliza nesta tarefa de tornar mais humano o nosso mundo, de o fazermos mais habitável. O nosso mundo é uma espécie de um berço para todos os homens e mulheres. Entre todos está Jesus Cristo. E este berço é digno d’Ele? Se for digno d’Ele também o é para nós. Mas tenho medo que o não seja. Ou, pelo menos, poderia ser bem mais digno do que é.

É verdade que o Salvador, ao assumir a nossa condição humana, se sujeitou às negatividades deste mundo. É certo que o que Ele veio fazer é melhorá-lo, humanizá-lo, divinizá-lo. Aliás, como Ele mesmo dizia: “Eu vim para que tenham a vida e a tenham em plenitude” (Jo 10, 10). Só que, nesta tarefa, Ele não quer estar sozinho: reclama a nossa participação.

Então que fazer? A nossa consciência fornece-nos a resposta. Não obstante, permiti que refira alguns aspectos. Apenas como sentido de ajuda.

Como sabeis, o nosso projecto pastoral deste ano anda à volta dos jovens. Para além da urgentíssima tarefa de os animar na fé ou até de a transmitir àqueles que a não têm, há aspectos que passam despercebidos e que reclamam a nossa atenção. Neles se verificam mais «carências» do que seria de esperar. Eis algumas: futuro incerto devido à precariedade do trabalho; dependências várias, particularmente dos jogos online; sedentarismo, com a consequente incapacidade de verdadeira relação; dificuldade de aguentar os níveis de stress, cada vez mais elevados nesta sociedade competitiva; maturidade emocional tardia, de forma que o amor é mais intenso que duradouro; divertimento associado a excentricidades; atracção geral pelo risco e pelo radical; etc.

Se isto acontece, que fazer? Todos e cada um nos devemos comprometer com algo de concreto. Apelo aos pais, de uma forma especial, para que acautelem isto nos seus filhos e se aproximem mais deles.

Que o nosso Advento/Natal não se reduza a aspectos meramente evocativos ou folclóricos. Mas que a «espera» consistente do salvador nos comprometa com a instauração do Reino de Deus e nos leve a balbuciar a prece activa: “Vinde, Senhor Jesus”.

A todos, bom Natal e feliz ano novo.

Manuel Linda

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