Trabalhos de reconstrução coordenados no terreno pela Cáritas de Coimbra
Pedrogão Grande, 26 set 2017 (Ecclesia) – As comunidades da região de Pedrógão Grande, na Diocese de Coimbra, começam a recuperar a esperança depois da tragédia dos incêndios, que só naquela povoação custou a vida a cerca de 30 pessoas.
Em entrevista à Agência ECCLESIA, Amílcar Calhau, um dos moradores do concelho, no lugar de Ramalho, perspetiva agora um futuro melhor, depois de há três meses as chamas terem destruído grande parte da casa onde vive com o seu irmão.
A generosidade dos portugueses permitiu no total angariar mais de 1 milhão e 800 mil euros para a ajuda às vítimas dos incêndios, e o trabalho da Cáritas Diocesana de Coimbra, instituição que está a coordenar os trabalhos de reconstrução na zona de Pedrogão Grande.
“Nem parece a mesma casa que lá estava. Foi mais baixa, levou as paredes todas rebocadas, ficou com muito mais segurança. E agora pronto, é esperar, já não há de levar muito”, realça Amílcar.
De acordo com o mais recente relatório de “Ação Cáritas de Coimbra”, que faz um ponto da situação nesta região há 13 semanas, no que toca às “16 intervenções consignadas, de cariz parcial, com um valor de aproximadamente 100 mil euros, 5 estão concluídas, 6 com previsão de finalização esta semana e as restantes 5 estão em fase de execução”.
Sobre casos de habitações em que será necessária a “reconstrução total”, das “13 habitações” em causa faltam “dois casos, que serão tratados de forma diferenciada”.
Enquanto aguardam pelo final dos trabalhos, as pessoas vão também procurando formas de manterem a sua subsistência, já que muitas dependem da terra, da agricultura, e perderam as suas propriedades.
No caso de Amílcar, os dias são passados “a cortar madeira, pinheiros e eucaliptos, ou então nas obras”.
“E é levantar a cabeça e aguentar, não há mais nada a fazer”, salienta.
“Não tem sido fácil, porque esta gente é gente da terra, não vive dela no sentido comercial mas para si própria, numa agricultura de subsistência. As pessoas estão habituadas à terra e não podem viver sem ela”, acrescenta o padre Júlio Santos, o pároco de Pedrogão Grande.
Segundo o sacerdote, a comunidade local continua a enfrentar momentos de “revolta” e “desânimo”, e mesmo de “apatia” perante o choque de tudo o que se abateu sobre ela, sobretudo as muitas perdas humanas.
“Cheguei a pensar que mais valia ter morrido do que ficar cá”, admite Alzira Quevedo, do lugar da Barraca da Boavista, que não esquece a solidariedade de quem a acolheu em sua casa quando as chamas só lhe deixaram “a roupa que tinha no corpo”.
Hoje vive com o seu marido, Álvaro, numa casa doada por uma prima, enquanto a habitação própria está em obras.
A solidariedade tem estado sempre bem presente, não só nos bens económicos doados mas também nos produtos – alimentos, vestuário, produtos de higiene pessoal e de casa, rações, mobiliário e eletrodomésticos – angariados pela Cáritas junto das populações, mais de 55 mil de acordo com os registos da organização católica.
“Apoios tivemos da Cáritas, a doutora Mariana tem-nos ajudado naquilo que ela consegue e pode. Temos tido apoios em roupa, em comida”, conta Maria Adelaide, da localidade de Várzeas, e uma das moradoras que também vai ter em breve a sua casa resgatada das ruinas a que foi votada, pela voracidade do fogo.
“Custa olhar para aqui, porque a casa era dos meus avós e as lembranças que tínhamos aqui, perdemos tudo”, lamenta.
A Cáritas Diocesana de Coimbra continua a receber donativos, especialmente no que toca a “mobiliário, eletrodomésticos” e outro tipo de material para que se possa completar o recheio das habitações.
HM/JCP