Refugiados: Arcebispo de Tânger alerta para cenário de morte que marca a região subsaariana

«No deserto morre muita gente, mas não parece que a Europa fique muito afetada com isso», lamenta D. Santiago Agrelo

Fátima, 23 ago 2017 (Ecclesia) – O arbispo de Tânger, em Marrocos, diz que a sociedade europeia precisa urgentemente de tomar maior “consciência” acerca das repercussões da crise de refugiados, sublinhando que manter as pessoas “fora das fronteiras” não pode ser solução.

D. Santiago Agrelo, em entrevista à Agência ECCLESIA em Fátima, dá como exemplo uma realidade bem próxima de si, com a qual tem lidado todos os dias na sua missão, a dos migrantes e refugiados subsaarianos que atravessam o deserto em busca de uma entrada na Europa.

“No deserto morre muita gente, e não se fala nem dos perigos, nem das humilhações, nem das mortes que os migrantes sofrem na travessia do deserto. A Europa sabe que se passa com os emigrantes e refugiados no Mediterrâneo, sabe o que se passa com os emigrantes e refugiados no Estreito de Gibraltar, mas não parece que fiquem muitos afetados com isso”, lamenta aquele responsável.

Para o arcebispo espanhol, que está em missão na Arquidiocese de Tânger há 10 anos, realça o desespero que marca hoje a vida de muitas pessoas.

“Mesmo que entrem de forma legal num país, depressa passam à ilegalidade. Aí multiplicam-se os problemas, no acesso a alojamento, a alimentação, a vestuário, são obstáculos que a maior parte dos europeus não imaginam porque não passaram por eles”, aponta aquele responsável, que vai ainda mais longe.

“A ilegalidade não escorre nas veias dos refugiados. As nações euroepeias é que os levam à ilegalidade, quando não lhes deixam nenhuma alternativa de buscar o futuro, futuro esse que têm todo o direito do mundo a buscar, onde lhes pareça melhor. É um direito reconhecido por todas as nações que assinaram a Carta dos Direitos Fundamentais do Homem, entre eles está o direito a emigrar, está o direito à integridade física, direitos que se violam constantemente”, salienta.

D. Santiago Agrelo está em Portugal a participar como orador na assembleia europeia das Servas Missionárias do Espírito Santo, que está a decorrer em Fátima, na Casa do Verbo Divino.

Em cima da mesa tem estado a questão dos migrantes e refugiados, com que a congregação tem lidado em vários países da Europa, e inclusivamente “começou agora um novo projeto na Grécia”, revelou a irmã Maria José Rebelo.

“Nós estamos nos cinco continentes e a nossa zona da Europa tomou a decisão de começarmos uma missão em movimento na Grécia. Estaremos alí enquanto for necessário servir os refugiados. Poder partilhar este grito que vem dos mais pobres, não só servindo, estando e aprendendo e deixando-nos converter por essas pessoas, pelas suas necessidades, mas também para ser uma voz de defesa destas pessoas”, concretizou aquela responsável.  

Para o arcebispo de Tânger, um dos primeiros passos para vencer o desafio desta crise de refugiados é ganhar a batalha da “informacão”, quer nos media quer depois na garantia de que “os migrantes e refugiados tenham acesso a “informacão útil para resolverem a sua situacão”.   

“Em torno das fronteiras de Ceuta e Melilla, em Marrocos, um dos problemas que denuncio frequentemente é a opacidade informativa que ali impera, só sai cá para fora o que é dito pelas autoridades, e quer se queira quer não essa informação é sempre uma imformação parcial”, salienta.

Por outro lado, estas pessoas “precisam também urgentemente de ser respeitadas” e isso passa em primeiro lugar por uma mudança de linguagem.

“Não é a mesma coisa dizer ilegal ou migrante, não é o mesmo dizer salta-fronteiras ou um pobre que quer passar a fronteira, mesmo que seja obrigado a fazê-lo de forma ilegal”, aponta D. Santiago Agrelo, que no que toca ao trabalho da Igreja Católica, frisa que tem de passar sobretudo pela “perceção das necessidades das pessoas e trabalhar para ajudar a ultrapassar os problemas”.

“Respostas políticas cabem aos políticos, e neste momento eles não estão a dá-las, não vemos respostas políticas para esta crise, eles estão simplesmente a ignorar o problema e a tentar manter os pobres fora das suas fronteiras”, conclui.

JCP

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Agência ECCLESIA

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