Irmã Maria João Neves fala do percurso percorrido desde a sua experiência familiar
Lisboa, 16 jun 2017 (Ecclesia) – ‘A Casa de Betânia’ celebra 25 anos em julho, um projeto que visa criar autonomia na vida de pessoas com deficiência intelectual.
Uma casa “onde se vive”, de permanência, e não de “passagem”, explica a irmã Maria João Neves, mentora do projeto, numa entrevista à Agência ECCLESIA, recordando que começou este trabalho acolhendo o seu irmão Manuel, já falecido, e outras duas pessoas.
“Ele não sabia ler e movia-se em Lisboa como ninguém. Há coisas que nós podemos aprender”, assinala.
Hoje as pessoas chegam, sobretudo, através de “outras instituições que não têm capacidade de resposta”.
“Não é gerido, vai-se gerindo: como numa família, quando chega um filho, é preciso tratar dele, mas depois com 2 é outra realidade, com 3, com 10. Nós tentamos que cada um seja ele próprio e começar um processo, como com qualquer pessoa”, refere a irmã Maria João Neves.
A associação reparte o seu trabalho por três espaços: a casa de Betânia, em Queijas, é a residência principal, a “casa mãe”, onde vivem 9 jovens e 2/3 responsáveis; a Casa do Farol, em Oeiras, é um apartamento para 8 jovens ou adultos com deficiência intelectual, acompanhados e apoiados por dois responsáveis que orientam a vida em comunidade; a Casa do Girassol, em Carnaxide, é um apartamento para 5 jovens ou adultos com deficiência intelectual, autónomos nas suas atividades de vida diária, integrados no mercado de trabalho ou em formação profissional.
“Nós procuramos fazer ao máximo uma família, que vive junta. Tentamos que as três casas sejam a mesma família, não só que eles possam ir lá passar um dia, um fim de semana”, observa a religiosa.
Há pessoas que são mais “desprendidas” do lugar e para a irmã Maria João Neves têm esse direito.
“O meu irmão esteve aqui muito bem, ele estava aqui como em sua casa, mas era desprendido, saía para aqui e acolá, fez a sua formação”, exemplifica.
A associação promove o direito a uma formação específica para que cada pessoa possa desempenhar uma atividade laboral ou ser uma presença de apoio a diferentes sectores da sociedade, de acordo com as suas capacidades.
“Temos criado parcerias com instituições diferentes porque a situação deles também é diferente”, explica a irmã Maria João Neves, para quem “é preciso preparar o ambiente, prepará-los a eles, através dos técnicos e das pessoas que trabalham connosco”.
A ‘Casa de Betânia’, baseando-se em experiências vividas pela religiosa e por Isabel Pinto nas Comunidades da Arca de Jean Vanier, quer ser um sinal de esperança num mundo marcado por tantas rejeições, sinal da fraternidade entre pessoas de diferentes origens sociais e culturais e de diferentes níveis intelectuais.
“Todas as instituições, neste momento, estão a dar passos na vida que criam para as pessoas com deficiência e que já não têm família”, observa a irmã Maria João Neves.
A responsável sublinha a “disponibilidade” que estas pessoas têm para estar com os outros e a capacidade de “estabelecer relações”, algo que nem sempre é habitual na sociedade.
“Há pessoas que estão doentes, sozinhas, que estão a tratar do marido ou da mulher, e eles vão lá. As pessoas acham extraordinário”, acrescenta.
A inclusão “plena” continua a ser uma meta difícil, uma “luta” constante e uma aprendizagem
“Todos temos a dar uns aos outros: temos muito para dar à pessoa com deficiência, mas ela tem também muito para nos dar”, conclui a irmã Maria João Neves.
O tema da Pastoral a Pessoas com Deficiência está hoje em destaque na edição semanal da revista ECCLESIA, dia em que começa a peregrinação jubilar a Fátima dedicado a este setor da ação da Igreja Católica.
LS/OC