Santos de periferias

Paulo Rocha, Agência ECCLESIA

O anúncio da data e do local para a canonização dos pastorinhos Jacinta e Francisco Marto em Fátima, no dia 13 de maio de 2017, pode ter muitos enquadramentos e leituras diferenciadas. Uma delas resulta do itinerário seguido pelo atual Papa, em linha com os gestos e as mensagens que têm marcado este pontificado: agir a partir das periferias.

De facto, encontram-se sintonias entre a determinação do Papa Francisco em visitar e auscultar as periferias para, a partir daí, propor novos caminhos para a Igreja Católica, em todo o mundo e neste tempo, e a decisão de presidir à canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto em Fátima. Em causa está a possibilidade de encontrar espaços disponíveis, desligados de compromissos de todos os géneros para os encher a partir do único que pode ocupar o centro, Deus. É essa a aposta do Papa e foi também essa a história de três crianças que espontaneamente se aproximaram do transcendente através de uma mensagem revelada na Cova da Iria.

O percurso de santidade de Francisco e Jacinta Marto é, com frequência, questionado pela aparente ausência de gestos heroicos, sejam no âmbito do martírio ou em setores sociais, de ajuda ao outro ou de promoção da justiça e da paz social. Passam por aí muitas e exemplares histórias de santidade, sobretudo em tempos mais recentes da História do Catolicismo. Francisco e Jacinta não. Não têm esses episódios para contar, num quotidiano feito da pastorícia durante os breves anos das suas vidas. Mas têm, os dois irmãos, a condição essencial para ser santo, em todos os tempos: a disponibilidade para o transcendente, para o acolhimento de Deus. O que só é possível em corações libertos de compromissos em torno de cada eu e desprendidos das amarras que o egoísmo faz emergir.

Santos assim, só mesmo sendo crianças. Porque habitam lugares periféricos, espaços abertos, livres e disponíveis para olhar em redor e preencher, a partir do interior, com o que é bom e belo. No caso dos pastorinhos, a partir de Deus, por inspiração de uma mensagem vinda do céu!

O ambiente das periferias é assim um ponto de encontro entre o pontificado do Papa Francisco e a história de santidade de Francisco e Jacinta Marto: para o primeiro Francisco pela energia colocada na dinamização de uma comunidade crente, em todo o mundo, não a partir de cúpulas, mas das cabeças de cada um dos seus membros; no segundo Francisco e na sua irmã Jacinta pela total disponibilidade para se deixaram inspirar por uma mensagem chegada do céu e dela darem testemunho, apesar da fragilidade das suas vozes.

Paulo Rocha

 

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