II Concílio do Vaticano: Diálogos entre Paulo VI e Jean Guitton

O mistério do concílio não se discernirá nunca completamente, “enquanto navegarmos no fluxo da história”, escreveu o filósofo francês que foi «observador» do II Concílio do Vaticano. Ainda durante a primeira sessão desta assembleia, Jean Guitton questionou-se se poderia enviar crónicas para os jornais, “uma vez que fizera juramento de ser discreto?”.

De 1962 a 1965, as atenções da Igreja estavam centradas no II Concílio do Vaticano. Esta reunião magna, convocada por João XXIII e continuada por Paulo VI, rasgou horizontes depois de alguns períodos turbulentos na história da humanidade.

Na obra «Diálogos com Paulo VI» da autoria do filósofo francês, Jean Guitton (1901-1999), lê-se que o cardeal Montini considerou as IV sessões conciliares como uma atividade “a céu aberto”. Para o Papa Paulo VI, o segredo é uma “invenção dos homens, uma medida de proteção”, mas o mistério é “coisa inteiramente diferente: é a substância do que não se vê” (In: Jean Guitton; «Diálogos com Paulo VI»; Edições Livros do Brasil; página 243).

O mistério do concílio não se discernirá nunca completamente, “enquanto navegarmos no fluxo da história”, escreveu o filósofo francês que foi «observador» do II Concílio do Vaticano. Ainda durante a primeira sessão desta assembleia, Jean Guitton questionou-se se poderia enviar crónicas para os jornais, “uma vez que fizera juramento de ser discreto?”. Dialogou com “um prelado sensato” sobre o assunto e ele respondeu-lhe com “esta máxima que depois se me tornou preciosa: nada sobre o segredo, tudo sobre o mistério”.

O concílio deveria “desenrolar-se no segredo”, mas isso “era praticamente impossível, por causa do grande número de padres, das indiscrições inevitáveis, dos meios modernos de informação, e também da curiosidade”, disse o Papa Paulo VI. Este “mal inevitável teve um bem como consequência” (os inconvenientes têm as suas vantagens e os espinhos têm as suas rosas). A vantagem foi a de o “universo inteiro” se poder manter ao corrente das deliberações dos padres conciliares, sublinhou o Papa italiano.

Neste diálogo entre o sucessor de Pedro e o filósofo francês, o antigo cardeal de Milão (Itália) pedia para que se esquecesse “o acidental, as vagas, talvez a espuma” porque, tal como a hora que soa, “o concílio é precedido e seguido pelo silêncio”. Entrasse “no silêncio posterior em que se ouve o eco da hora que soou”.

Ao revisitar o passado da História da Igreja e os concílios anteriores, o grande obreiro desta assembleia magna referiu que “muitas crises, possíveis a priori, foram evitadas”. Um dos resultados mais visíveis foi que o concílio “decorreu sem demasiados abalos; não foi suspenso, interrompido, chegou ao fim, e, por vezes, para além das esperanças”. “Foi um tempo de visita divina, uma grande hora, um momento vigoroso no tempo da Igreja”.

LFS

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Agência ECCLESIA

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