Igreja/Arte: «Nisreen», a história real de uma refugiada através da dança contemporânea

Iniciativa solidária foi pensada por Rita Coelho, voluntária na Grécia

Lisboa, 21 mar 2017 (Ecclesia) – Nisreen é uma jovem refugiada síria com 23 anos que agora vive na Holanda mas também é um bailado de dança contemporânea que conta essa história de fuga e sobrevivência da guerra que sensibiliza para uma realidade próxima de Portugal.

“O bailado pretende contar uma história, entrar na humanidade e na proximidade que nos permite pôr-nos na pele, compadecer e sentir próximo. E que isso nos inquiete, transforme, nos convide à ação, à compaixão, ao amor”, disse a diretora artística e argumentista do bailado.

À Agência ECCLESIA, Rita Coelho contextualiza que que conheceu Nisreen, nos primeiros dias de voluntariado no campo de refugiados de Lesbos, na Grécia, em abril de 2016, onde esteve pela Plataforma de Apoio aos Refugiados (PAR).

“Foi exatamente o que aconteceu comigo, os meus olhos estavam a chorar. As memórias voltaram todas”, contou por sua vez Dolair Kuradz, refugiado iraquiano que vive em Lisboa com a esposa e os dois filhos.

À Agência ECCLESIA resume que fugiu com a roupa do corpo depois de atentarem várias vezes contra a sua vida e antes de chegar a Portugal esteve na Turquia, de onde atravessou num “pequeno barco” com 60 pessoas para a Grécia.

“Todos precisam de paz e em Portugal há paz, as pessoas são simpáticas, bondosas, não são violentas. A minha vida é nova”, acrescentou Dolair Kuradz que está a trabalhar, os filhos estão na escola e a esposa a aprender português.

Rita Coelho recorda que quando conheceu Nisreen foi ela que se ofereceu para a ajudar como voluntária, afinal “não falava nem grego, nem árabe”, e desenvolveram uma “amizade e relação muito próxima”.

A história da jovem síria marcou muito a jovem portuguesa “por ser tão jovem, ter tantos sonhos”, e por se “identificar e rever na situação dela”: “E pensar e se fosse eu?”

O espetáculo esteve em cena durante dois dias e a receita reverteu para a PAR, que segundo o seu coordenador vai utilizar todo o montante para “o trabalho na ‘Linha da Frente’, concretamente na Grécia”, onde têm voluntários em Lesbos e Atenas.

“Quando as crises ganham nomes, ganham rostos humanos tornam-se muito mais próximos e percebemos o que é a vida de uma jovem como a Nisreen que se viu obrigada a sair da sua terra por motivo da guerra e é obrigada a procurar uma vida nova, uma vida diferente”, desenvolve Rui Marques.

Neste contexto, considera é uma excelente forma de ter “consciência” do quão importante é “receber uma pessoa, uma família, centenas de família” e a PAR tem o sonho de duplicar o acolhimento em Portugal até à visita do Papa Francisco ao Santuário de Fátima, a 12 e 13 de maio.

A coreografa e bailarina Carolina Themudo revela que gosta “muito de temas que mexem com o coração e mexem o coração”, e recorda que há cerca de um ano e meio a crise dos refugiados era o mais mexia e lhe tocava mas não podia ir para a Grécia.

Em ‘Nisreen’ procurou “transmitir sentimentos” num bailado que é “emoção e história real”, um trabalho que não foi fácil porque as bailarinas são adolescentes e tiveram de “transmitir” uma “mensagem com um tema pesado”.

A interpretação foi da responsabilidade da Classe de Dança Contemporânea d'O Espaço e Filipa Duarte que deu corpo à Nisreen conta que quando a refugiada síria atravessou-se na sua vida percebeu “que nada sabia” dessa realidade.

“Acho importante as pessoas darem atenção ao que se passa lá fora, à nossa volta, porque vivemos numa sociedade muito individualista”, acrescentou a jovem de 22 anos, apenas um ano mais nova do que Nisreen.

CB

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