Igreja/Cultura: Liberdade na literatura potencia encontros com Deus

Pedro Mexia afirma que qualidade literária é critério para intemporalidade e questionamento sobre a transcendência

Lisboa, 12 dez 2016 (Ecclesia) – O crítico literário Pedro Mexia afirma que a liberdade dos escritores na composição de um texto potencia os encontros com o “transcendente” e que o critério de escrita deve ser a “qualidade literária” e não a confessionalidade.

“Trata-se de um multiplicador de descobertas individuais, que são dificilmente arregimentadas, catalogadas, quantificáveis, mas que potenciam a possibilidade do encontro. Deus está aí”, afirma à Agência ECCLESIA o crítico literário e comentador Pedro Mexia, questionado sobre a presença de Deus na literatura não-confessional.

Os escritos chegam na forma de “perguntas, ansiedades”, que são comuns a todo o ser humano, que é, acredita o comentador político, “uma criatura potencialmente religiosa” mesmo quando “sublima o impulso religioso noutras dimensões”.

O assessor cultural da Presidência da República afirma que todo o ser humano faz “as mesmas perguntas” sobre a vida, a morte, o amor, a solidão, o desejo, “podendo encontrar diferentes caminhos para as respostas”.

Para isso a liberdade é essencial, acrescenta: “Nunca o gesto religioso foi tão livre porque já não é maioritário, hegemónico, obrigatório. É mais caótico, claro, porque permite uma espiritualidade difusa, mas apresenta uma multiplicidade maior de caminhos em liberdade. E o facto de haver mais caminhos em liberdade, penso que se trata de uma oportunidade e uma bênção”.

Para Pedro Mexia, a qualidade literária da obra ultrapassa a sua “confessionalidade”.

“Hoje lemos São João da Cruz (poeta místico e frade carmelita, ndr) porque é um grande poeta, não por ser católico. A intemporalidade é marcada pela literatura mais do que pela espiritualidade”, precisa.

Outro exemplo mencionado é o de Paul Claudel, "genericamente considerado o maior poeta católico francês do século XX", que se converteu ao cristianismo lendo Arthur Rimbaud.

"Não há nada nas convicções ou no que Rimbaud escreveu que tenha qualquer coisa a ver com o catolicismo. Isso mostra que as pessoas encontram o seu caminho de forma inusitada", sublinha, reforçando que uma pessoa pode não ter fé e escrever sobre a fé.

"Alguns autores em que a ideia do sagrado é mais forte no século XX não são pessoas religiosas no sentido canónico", reforça.

Segundo o assessor cultural da presidência da República, a "ideia de Deus" não esmoreceu na literatura: "A ideia de Deus é absolutamente é transversal, intemporal, e ao contrário do que parece acontecer, não esmoreceu. Manifesta-se de formas diferentes, diminuiu no laço de pertença, mas no fundamental, mesmo com os avanços da ciência e uma visão mais laicista no ocidente, essa dimensão não desapareceu".

LS

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Agência ECCLESIA

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