II Concílio do Vaticano: A influência do «Pavilhão soviético» dos Dominicanos em Sá Carneiro

Os textos emanados do II Concílio do Vaticano (1962-65) influenciaram o pensamento de Francisco Sá Carneiro (1934-80), mas os diálogos com dois frades dominicanos – Bernardo Domingues e Bento Domingues – ajudaram a moldar a personalidade interventiva deste advogado e político portuense.

Os textos emanados do II Concílio do Vaticano (1962-65) influenciaram o pensamento de Francisco Sá Carneiro (1934-80), mas os diálogos com dois frades dominicanos – Bernardo Domingues e Bento Domingues – ajudaram a moldar a personalidade interventiva deste advogado e político portuense.

Quando nos anos sessenta o casal Sá Carneiro passou a habitar na Rua Santa Joana Princesa (Porto), a Igreja do Cristo-Rei ficava a poucos metros de distância. É o templo portuense da «Ordo Praedicatorum», conhecida por Ordem Dominicana, em referência a Domingos de Gusmão, seu fundador. Nesse convento viviam os irmãos Domingues: Bernardo e Bento. “Um e outro encontram Francisco. Um e outro, a seu modo, marcar-lhe-ão a vida” (In: Fernando Gomes Perpétua; «Francisco Sá Carneiro – Um Católico na Política»; Lisboa, Aletheia Editores).

Após o casamento, Francisco Sá Carneiro e a sua esposa Isabel passam a integrar as «Equipas de Nossa Senhora», movimento de espiritualidade conjugal, nascido em França. Os casais que formam a equipa encontram-se uma vez por mês, em casa de cada casal, rotativamente. Jantam. Conversam. Depois, sob a orientação de um padre, “inicialmente frei Vargas, mas depois, frei Bernardo Domingues, discutem textos bíblicos, rezam, partilham a vida”. (Obra citada anteriormente).

Ao ler e meditar os textos conciliares, Francisco Sá Carneiro sente o imperativo da ação e quer libertar-se do “círculo atávico do seu espaço de conforto”. Atravessa a rua e do outro lado, dois homens que abraçaram o ideal dominicano recebem-no. Frei Bento e frei Bernardo Domingues ouvem Francisco e percebem as suas inquietações. “Comungam muitas delas”. A afinidade entre Francisco e os dois frades cresce e estes passam a frequentar a casa de Isabel e Francisco.

Empurrados pelos ventos de mudança do concílio, a Juventude de Cristo-Rei organiza uma exposição fotográfica onde mostra rostos de sofrimento e pobreza, homens e mulheres socialmente excluídos e de liderem de movimentos de libertação das colónias portuguesas. Os movimentos juvenis de direita mobilizam-se em direção ao que “chamam ser o «pavilhão soviético» dos Dominicanos” (Obra citada). Frei Bento antevê problemas e tenta evitar o confronto. Vários jovens são detidos e frei Bento e seu irmão são convidados por D. Florentino de Andrade e Silva, administrador apostólico do Porto, a abandonar, de imediato a cidade. Obedientes acatam a decisão. Sá Carneiro fica indignado, mas a amizade com estes dominicanos nunca se perdeu. A luta de ambos tinha uma raiz conciliar.

LFS

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Agência ECCLESIA

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