Padre João Torres alerta para cinco «modos de domesticar» a pessoa presa
Braga, 05 nov 2016 (Ecclesia) – O coordenador da Pastoral Penitenciária de Braga assinala que a Igreja Católica apesar das dificuldades “não pode passar ao lado dos desafios” e “ignorar as exigências do mundo prisional”, num artigo pelo Jubileu dos Reclusos, no Vaticano.
“As dificuldades e constrangimentos constituem uma oportunidade de renovação pastoral e de formas novas de organização, convidando à esperança para o futuro, pois a comunidade que abandona os seus reclusos esquece a caridade e, por isso, não vive nem testemunha o Evangelho”, escreveu o padre João Torres.
Num artigo de opinião enviado hoje à Agência ECCLESIA, o sacerdote no contexto do Jubileu da Misericórdia dos reclusos, que se realiza entre hoje e este domingo no Vaticano, considera que é uma “oportunidade para olhar para dentro”.
“Existem em nós aterradoras potencialidades assassinas que, por múltiplas circunstâncias, aprendemos a conter e a dominar. Como reagiria cada um de nós diante de alguém que estivesse a violentar sexualmente uma criança? E se essa criança fosse nosso filho?”, questiona o coordenador da Pastoral Penitenciária de Braga, recordando que o Papa Francisco referiu que todas são «capazes de cometer os mesmos crimes de quem está na prisão».
O padre João Torres comenta que “sublimes processos de domesticação” do outro, nesse caso da pessoa presa, podem acontecer dentro de cada um e funcionam como “mecanismo de proteção, de distanciação e de coisificação do outro”.
Neste contexto, enuncia “apenas cinco”, como percurso de reflexão para o jubileu dos reclusos que já começou e de Portugal participam cerca de 80 pessoas, onde se conta um recluso e quatro ex-reclusos, que viajaram com a Pastoral Penitenciária portuguesa.
Os cinco mecanismos, segundo o sacerdote, são “paternalismo”, “devocionismo – sacramentalismo” quando os reclusos pedem “capacidade de compreensão, paciência infinita, convivência e continuidade de relações centradas nas virtudes humanas”.
Outros modos de domesticar são o “legalismo” quando se responde à pessoa presa “apenas e só com leis e preceitos”, o “funcionalismo, agir como um funcionário que desempenha um papel e oferece serviços” e o “correrismo”.
Desta forma, o coordenador da Pastoral Penitenciária de Braga destaca que para humanizar o recluso é preciso, em primeiro lugar, desprendimento pessoal, “da falsa autoimagem” que cada um constrói de si.
“Para responder ao outro com liberdade, para defender precisamente os direitos do outro, preciso de ir ao seu encontro de uma forma livre”, observa ainda o padre João Torres.
CB