Coimbra: Apoio à classe média é «grande preocupação» da Cáritas

Consequências da crise continuam a fazer-se sentir

Coimbra, 19 fev 2016 (Ecclesia) – Cáritas Diocesana de Coimbra está a direcionar grande parte do seu apoio social na região para a chamada classe média, para famílias que devido à crise perderam quase tudo e ficaram em “situação de insolvência” económica.

Em entrevista à Agência ECCLESIA, a coordenadora do Centro de Apoio Social da Cáritas Diocesana de Coimbra frisa que este setor é de momento uma “grande preocupação” da instituição e por enquanto “não se percebem sinais de retoma”.

A mais recente edição do Semanário digital ECCLESIA é dedicada à Semana Nacional Cáritas, que começa este domingo.

“São pessoas, muitas delas com formação superior, empresários que se viram numa situação complicada, que fogem àquele padrão de pobreza, que até têm alguns rendimentos mas que não são suficientes para responder às suas necessidades”, realça Ana Paula Cordeiro.

Depois de atingirem um certo nível de vida, e terem assumido determinados compromissos, com a compra de “casa, carro”, a criação de “empresas”, estas pessoas caíram de repente “numa situação complicada que não é fácil de resolver”.

Grande parte dos apoios vão para o pagamento de contas, sobretudo de eletricidade, luz, gás e água, rendas, condomínios e impostos sobre imóveis.

Também para a alimentação, vestuário e compra de livros e material escolar. Ainda na área escolar, a procura de ajuda na alimentação aumenta no verão para dar resposta aos filhos que estão em casa.

“Ao contrário do que nós queríamos e gostaríamos, as necessidades mantêm-se e até há pessoas a recorrer pela segunda e terceira vez, não vemos grandes melhorias, infelizmente”, descreve a responsável pelo Centro de Apoio Social da Cáritas Diocesana de Coimbra.

O peditório público da Cáritas local vai reverter, como tem acontecido nos últimos anos, a favor do trabalho deste centro, especialmente direcionado para “atender situações de carências na classe média que não cabem nas respostas sociais”.

Ana Paula Cordeiro realça o facto de estas famílias serem por um lado as mais carregadas em termos de encargos por parte do Estado e depois quando precisam “não têm as respostas necessárias”.

“Elas não reúnem condições para ter qualquer tipo de apoios, não têm abonos familiares, não podem recorrer a um fundo de apoio social, não têm direito a uma simples tarifa social porque já atingem um certo patamar de rendimentos”, recorda.

Recorrem ao Centro de Apoio Social da Cáritas de Coimbra pessoas “em situação de carência pontual, de desemprego ou a aguardar subsídios de desemprego e em situação de baixa médica”.

“Há pessoas a recorrer pela segunda e terceira vez” e atingidas por uma cada vez maior fragilidade e desmotivação”, sobretudo aquelas com “40, 50 anos, que se veem em situação de desemprego”.

O caso de Maria José Castro enquadra-se nesta situação e teve de recorrer ao apoio da Cáritas quando ficou desempregada, ao mesmo tempo do seu marido.

Destaca a importância do Centro de Apoio Social para “que as pessoas se enquadrem, se sintam bem e não marginalizadas”.

Com o suporte do Centro, Maria José Castro ganhou inclusivamente forças para, quase 30 anos depois, se aventurar novamente no estudo para tirar uma pós-graduação em Ensino Especial, que ainda está a frequentar.

“Espero concluí-lo com uma boa média, não só como realização pessoal, porque é uma área de que eu gosto, mas também por outras portas que se poderão agora abrir”, conclui.

HM/JCP

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