Pároco recorda percurso de vida ao serviço da Igreja em tempos de mudança
Lisboa, 30 jun 2015 (Ecclesia) – O cónego António Janela, do Patriarcado de Lisboa, celebra em 2015 os seus 50 anos de sacerdócio, opção que diz ter sido o “ato mais livre” da sua vida, marcada pelas mudanças na Igreja e na sociedade portuguesa.
“Vinha com a garra de militante da ação católica, da JEC, entusiasmado, depois existiram várias circunstâncias mas nunca tive nenhum apelo sobrenatural. Foi a própria vida, certos sinais que indiciaram”, recorda o pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, do Patriarcado de Lisboa.
À Agência ECCLESIA, cónego António Janela recorda “anos muito entusiasmantes” pelo Concílio Vaticano II, “desde o final de 1958 até à ordenação em 1965”, e revela que as matérias de estudo já foram de “algum modo orientadas” para a renovação conciliar.
“Foi uma opção muito pragmática, naquela altura um cristão empenhado ou se consagrava na vida familiar, profissional ou então entregava-se ao ministério sacerdotal. Era preciso alguém que se lançasse a tempo inteiro no apostolado”, lembra o também diretor do Instituto Diocesano de Formação Cristã.
Neste percurso inicial de formação, o sacerdote natural de Luanda, Angola (1941), destaca que teve a “sorte de ter mestres” que eram “testemunhas” onde se destacou entre outros o padre Alberto Neto que o marcou “profundamente pelo seu profetismo”.
“Não apenas um homem que vê o futuro mas porque de facto era porta-voz de uma mensagem vivida, testemunhada. Um homem que se orienta não por um gosto ou interesse pessoal mas por uma questão de serviço, fidelidade a uma missão”, contextualiza.
O cónego António Janela foi convidado pelo padre Alberto Neto para integrar uma equipa de quatro sacerdotes professores de Moral que dava aulas em colégios de Lisboa, sob a sua coordenação, numa experiência “marcante”.
O sacerdote está associado à história da Capela do Rato porque depois da vigília da paz, promovido por leigos na passagem do ano de 1972 para 1973 a polícia selou as portas e na manhã do dia 1 de janeiro, o cónego António Janela, com autorização do patriarca D. António Ribeiro, rompeu os selos e celebrou a Eucaristia, acabando por ser detido no final da mesma.
40 anos depois do 25 de abril de 1974 o entrevistado assegura que houve quem tivesse dado “muito mais o corpo ao manifesto e sofreram muito mais”.
“Sinto que fui muito mais como professor de Moral no liceu do que aquele episódio”, observa.
Atualmente é pároco da Paróquia urbana do Sagrado Coração de Jesus onde testemunha a “desertificação de um grande centro” e, com apenas sete crianças na catequese, identifica “duas paróquias” na igreja, uma semanal e outra ao fim de semana.
“Espero que um dos resultados do sínodo seja a alteração da presença da Igreja num mundo urbano”, comenta.
Sobre o Sínodo que a Diocese de Lisboa (2016) espera ainda que “efetivamente” se prepare uma “mentalidade” assente numa “eclesiologia de comunhão participação e de corresponsabilidade”, um ‘sonho missionário de chegar a todos’ que passa pela conversão de cada um mas “também pela reformulação de estrutura eclesiásticas”.
PR/CB