Francisco desafia Igreja a delinear «espiritualidade» dos idosos
Cidade do Vaticano, 11 mar 2015 (Ecclesia) – O Papa Francisco elogiou hoje no Vaticano o testemunho de vida espiritual dos mais velhos, evocando o exemplo de Bento XVI, e desafiou os católicos a promover o encontro entre gerações.
“Como gostaria de uma Igreja que desafia a cultura do descartável com a alegria transbordante de um novo abraço entre os jovens e os idosos. É isto o que peço hoje ao Senhor, este abraço”, declarou, na audiência pública semanal que decorreu na Praça de São Pedro, reunindo dezenas de milhares de pessoas.
Francisco sublinhou a importância da experiência de vida dos mais velhos, como fonte de ensinamentos para as novas gerações.
“Nós, os idosos, podemos lembrar aos jovens ambiciosos que uma vida sem amor é árida. Podemos dizer aos jovens temerosos que a angústia pelo futuro pode ser vencida. Podemos ensinar aos jovens demasiado enamorados por si próprios que há mais alegria em dar do que em receber”, afirmou.
O Papa realçou, por isso, que a oração dos idosos é um “grande dom para a Igreja” e uma “grande injeção de sabedoria para toda a sociedade”, em particular para a que está demasiado “ocupada” ou “distraída”.
“Olhemos para Bento XVI, que decidiu passar na oração e na escuta de Deus a última etapa da sua vida. Isto é bonito”, referiu.
O pontífice argentino recordou que quanto esteve nas Filipinas, em janeiro, era tratado como ‘lolo Kiko’, isto é, ‘avô Francisco’.
“Este período da vida é diferente dos outros que o precedem, sem dúvida, e temos de o inventar, de certa forma, porque as nossas sociedades não estão preparadas, espiritual e moralmente, para lhe dar o seu pleno valor”, observou.
A intervenção alertou para o “cinismo” dos idosos que perdem “o sentido do testemunho”, desprezam os jovens e não comunicam “uma sabedoria de vida”.
O Papa assinalou, a este respeito, que a própria Igreja sente a necessidade de “delinear uma espiritualidade das pessoas idosas”, que podem “interceder pelas expetativas das novas gerações” e dar “dignidade à memória e aos sacrifícios das [gerações] passadas”.
“Tornemo-nos também um pouco poetas da oração: ganhemos o gosto de procurar palavras nossas, reapropriemo-nos das que nos ensina a Palavra de Deus”, acrescentou.
Francisco confessou que ainda traz no breviário as palavras que a sua avó lhe deu no dia da ordenação sacerdotal e que as lê “muitas vezes”.
Como habitualmente, o Papa cumprimentou os peregrinos de língua portuguesa presentes no Vaticano.
“Faço votos de que as comunidades cristãs ofereçam ao mundo um testemunho de respeito e veneração pelos idosos, conscientes de que eles podem transmitir de um modo privilegiado o sentido da fé e da vida! Obrigado pela vossa presença”, disse.
OC