Renúncia quaresmal vai reforçar fundo solidário, que distribuiu 230 mil euros em três anos
Braga, 20 fev 2015 (Ecclesia) – O arcebispo de Braga contesta na sua mensagem para a Quaresma o discurso de recuperação económica depois da crise, recordando as dificuldades crescentes que muitos trabalhadores e suas famílias estão a enfrentar.
“Infelizmente, e no meio de discursos políticos que tentam convencer-nos dum crescimento económico gerador de igualdade de tratamento para todos os portugueses, ainda somos interpelados por situações que não podem esperar e aumenta o número daqueles que vivem com rendimentos abaixo do limiar da pobreza”, alerta D. Jorge Ortiga.
Neste contexto parte da chamada renúncia quaresmal da arquidiocese vai ser destinada ao fundo solidário ‘Partilhar com esperança’ que distribuiu 230 mil euros em três anos a “726 famílias e 2075 pessoas”.
Segundo o prelado, 80% desse valor serviu para pagar “rendas de casa” e os restantes 20% para “medicação, água, luz” e outros bens de primeira necessidade.
“À pobreza envergonhada, a carências pessoais e familiares, a imperativos materiais essenciais para uma vida digna continuaremos a responder com a solicitude ‘não saiba a mão direita o que faz a esquerda’”, acrescentou.
D. Jorge Ortiga informa que os donativos vão também ajudar as “muitas e variadas necessidades” da Igreja de Pemba, Moçambique, no âmbito do protocolo de cooperação missionário assinado a 27 de outubro de 2014.
“Pretende-se que a Arquidiocese de Braga estabeleça uma verdadeira ponte de solidariedade humana e cristã onde a vida das duas dioceses se enriquecerá reciprocamente”, escreve o arcebispo.
O protocolo permite que nesta Quaresma se realiza a primeira missão de Braga até Pemba, formada por um sacerdote, uma enfermeira, um assistente social e uma investigadora na área da cooperação para o desenvolvimento.
O também presidente da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana recorda que o Papa Francisco, na sua mensagem para Quaresma 2015, retrata a “indiferença” global como a principal “doença da sociedade” que precisa do “ímpeto reformador” dos cristãos.
“Serão os nossos dias diferentes? Como se chama o nosso vizinho? Qual o nome daquela pessoa deitada na rua e por quem passamos todos os dias?”, questiona o prelado.
A “lógica da misericórdia”, o “outro nome” do cristianismo, é o antídoto para a indiferença sugerido por D. Jorge Ortiga, que significa “amor visível e concreto, afetivo e efetivo” capaz de transformar as relações humanas que “ocultam egoísmos evidentes ou disfarçados”.
Na mensagem para a Quaresma 2015 é explicado que a linha que une hoje o perto e o longe “não” são as geografias mas de “profundidade do olhar”, do “diálogo profundo de corações capaz de quebrar a “vertigem da globalização da indiferença.
Por isso, desenvolve o arcebispo, o tempo de preparação para a Páscoa deve ser marcado pela necessidade da mudança pessoal, comunitária e social, com disposição para “mudar o mundo”.
A Semana Santa é o “ápice deste compromisso”, mostrando aos turistas que visitarem a arquidiocese que os católicos não se “contentam em repetir tradições” mas pela fé querem “construir” um mundo novo, onde “resplandeça a dignidade de todos”.
CB/OC