Beja: Bispo pede mais humanidade nos serviços públicos em contexto de crise

D. António Vitalino defende promoção das pessoas que vá para lá do «assistencialismo»

Beja, 05 dez 2014 (Ecclesia) – O bispo de Beja identifica um Alentejo desertificado, num Portugal em crise onde as instituições da Igreja são um garante da população, pedindo respostas para quem vive essencialmente a interioridade e mais humanidade aos serviços públicos.

“Espero que os poderes públicos, embora sabendo que também têm de satisfazer os seus compromissos, sejam mais humanos porque a pessoa é que é o centro de todo o nosso compromisso, quer da Igreja, do Estado e de qualquer outra instituição”, alertou D. António Vitalino, em entrevista à Agência ECCLESIA.

O bispo de Beja frisou que quando se “ofende a dignidade” da pessoa humana e da família não se cumpre a “missão” política.

No Alentejo, como por todo o território nacional, as instituições sociais ligadas à Igreja têm sido uma ‘almofada’ para muitas pessoas na atual crise económico-financeira: “Preocupa-nos a promoção das pessoas, não o simples assistencialismo”.

Nesse sentido, o entrevistado explica que têm equipas de reinserção, sobretudo ligadas à Cáritas diocesana, onde procuram “autonomizar” quem precisa da sua ajuda “através da realização pessoal e social”.

Para o bispo de Beja, a Igreja “deve ser profeta” que denuncia mas que também ajuda.

“Este tipo de sociedade sempre existiu mas por isso é que temos o poder judicial que tem de ser dotado de meios necessários para que se as pessoas atuem por ética, amor, princípios de cidadania”, alertou mais uma vez para que a população “sinta confiança em todos aqueles que escolhe”.

Bispo na diocese alentejana de Beja há 16 anos, o prelado indica o que considera que deve ser desenvolvido para que esta região seja mais apreciada, como na agricultura, que “tem muitas potencialidades” ou o turismo que “podia ser muito mais desenvolvido, apostando na qualidade” e menos em massas.

“Poderiam estabelecer-se mais empresas, a nível de matéria-prima, criar indústria de transformação que não temos; Na formação e educação há muito a fazer”, acrescentou.

A Igreja diocesana tem acompanhado este desenvolvimento, por exemplo, na área da conservação e inventariação/catalogação do património: “Esta conservação e manutenção custa muito dinheiro, entre as autarquias e o departamento tem-se conseguido alguns recursos”.

D. António Vitalino destaca que tanto os autarcas, como a população respeitam “muito a hierarquia e a Igreja”, uma instituição que “merece confiança” e tem o ambiente propício para evangelizar.

O interlocutor destacou ainda como positivo a barragem do Alqueva, que vai irrigar 110 mil hectares – “agora os agricultores podem semear com confiança” – e critica o Aeroporto de Beja que está praticamente parado – “uma estrutura que custou uns milhões”.

“Queremos e fazemos as coisas, investimos em betão e infraestruturas, mas depois não delineamos o seu funcionamento e a sua manutenção”, comentou.

O Cante Alentejano foi declarado Património Imaterial da Humanidade da UNESCO, a 27 de novembro, e o prelado de Beja considera que “tudo o que tem valor cultural deve ser reconhecido ou corre o risco de desaparecer”.

“Este reconhecimento é importante, é expressão de uma cultura que não existe noutro lado, vi este reconhecimento com muita alegria” acrescentou destacando também a ação do padre António Cartageno, que integrou a comissão científica, do padre Marvão, ou do cónego Aparício.

A entrevista ao bispo de Beja, publicada na última edição do Semanário digital ECCLESIA, que dedica um dossier à diocese alentejana.

LS/CB/OC

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