Paulo VI: Papa tímido da palavra e do gesto

Cónego António Janela fala do futuro beato como uma «referência pastoral»

Lisboa, 18 out 2014 (ecclesia) – O cónego António Janela, do Patriarcado de Lisboa, recorda Paulo VI como o seu Papa por “razões de dimensão cronológica” e porque é “uma referência pastoral” na sua vida, afinal foi ordenado sacerdote em 1965.

“Era tímido mas pela palavra e pelo gesto era convincente e sofreu muito mas certamente no processo de beatificação as virtudes heroicas estão bem documentadas”, revela o sacerdote à Agência ECCLESIA.

Dos vários gestos do Papa italiano, o cónego António Janela destacou o momento em que Paulo VI “entregou uma tiara ao povo mais rico do mundo”, os Estados Unidos da América, “para que tivessem presente os povos mais pobres”.

O até então inédito abraço ao patriarca Atenágoras, de Constantinopla (Igreja Ortodoxa), que o Papa Francisco repetiu simbolicamente este ano, pelos 50 anos deste encontro, é outro gesto destacado.

À Agência ECCLESIA, o sacerdote português explica que a “diplomacia” fazia parte do ADN de um “homem tímido de inteligência brilhante” que fez a iniciação académica na Companhia de Jesus e aos 23 anos foi ordenado presbítero.

Enquanto padre, Paulo VI foi, durante nove anos, assistente da Federação dos Universitários Católicos Italianos e acompanhou os universitários onde teve uma “repercussão muito grande na formação de intelectuais que vão destacar-se na política”, como o político Ado Moro, que foi primeiro-ministro da Itália.

O assassinato deste político amigo do Papa, pelas Brigadas Vermelhas, foi “uma das páginas mais tristes e dramáticas da sua vida”, observa o sacerdote.

O então arcebispo de Milão foi nomeado cardeal pelo Papa João XXIII, em 1958, e “tem papel relevante na primeira sessão” do Concílio Vaticano II (CVII), acrescenta o entrevistado que explica que são os cardeais “reformadores” que contribuem posteriormente para a sua eleição.

Para o cónego António Janela o futuro beato também deu uma “dimensão mundial à Igreja”, sendo o primeiro a viajar para fora de Itália visitou vários países como Índia, Portugal, Estados Unidos da América, América Latina e Austrália.

Destas viagens, o padre do Patriarcado de Lisboa recorda o “discurso importantíssimo” de Paulo VI na Organização das Nações Unidas, quando disse “não mais a guerra, nunca mais a guerra”.

A produção literária do Papa também “marcou o recém-ordenado” padre António Janela (1953), que em 1969 viajou para Roma.

À Agência ECCLESIA, destaca ainda que a Exortação Apostólica «A Alegria do Evangelho», do Papa Francisco, “bebe muito” da «Ecclesiam Suam», do Papa Paulo VI (1964), “quando convida à Igreja em saída, a gentes de diálogo”, relação que se pode ler nas “inúmeras vezes que a cita” nas notas de rodapé.

“A encíclica ‘Ecclesiam Suam’ é uma belíssima reflexão sobre o diálogo da Igreja com o mundo. Abre horizontes de uma Igreja fechada”, contextualiza.

A “Populorum progressio”, de 1967, é outro documento que o cónego António Janela destaca pela “atenção muito grande à década de sessenta” e pelos apelos a um progresso económico que “tem de ser visto com dimensão mais ampla, um progresso social, um progresso espiritual”.

Estas e outras declarações, memórias e análises sobre o pontificado do Papa Paulo VI vão ser transmitidas no programa ‘70×7’ deste domingo, na RTP2, pelas 11h30.

HM/CB/OC

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