Vaticano: Casais dão olhar diferente ao Sínodo

Leigos abordam «situações pastorais difíceis» desde o seu trabalho no terreno e experiência familiar

Cidade do Vaticano, 08 out 2014 (Ecclesia) – Os casais que estão a introduzir desde segunda-feira as sessões de trabalho do Sínodo dos Bispos sobre a família, no Vaticano, têm abordado as chamadas ‘situações pastorais difíceis’, que começaram hoje a ser debatidas.

O cardeal brasileiro e presidente-delegado da assembleia, D. Raymundo Damasceno Assis, explicou na abertura da reunião desta tarde que não está em causa um “olhar legalista” sobre temas como o divórcio ou a homossexualidade, mas fazer que a Igreja “seja a casa paterna onde há lugar para cada um, com a sua vida”.

Os participantes ouviram hoje o testemunho de Stephen e Sandra Conway, sul-africanos que são responsáveis regionais do movimento ‘Retrouvailles’, organização católica que ajuda casais em risco de separação ou em situações consideradas irregulares pela Igreja.

O casal revelou que se encontra com muitos católicos em segunda união que se sentem “perdidos” por causa de não poderem comungar.

“Se Deus é aquele que perdoa, por excelência, e cheio de compaixão, então estes casais deveriam ser perdoados pelos seus erros anteriores; eles acreditam, no entanto, que estão constantemente a ser recordados e culpabilizados pelas relações anteriores ou pelos seus erros, ao não serem capazes de tomar parte na Comunhão”, observaram.

Esta manhã a assembleia escutou Jeannette Touré, da Costa do Marfim, casada com um muçulmano há 52 anos, no “respeito mútuo” da fé de cada um, dando uma educação cristã aos seus filhos.

Os norte-americanos Jeffrey e Alice Heinzen abordaram as consequências para as novas gerações de um crescimento sem “pais casados”, convidando os presentes a delinear “métodos mais robustos e criativos para partilhar a verdade fundamental de que o matrimónio é um dom divino”.

George e Cynthia Campos, das Filipinas, apresentaram o seu trabalho na associação laical ‘Casais para Cristo’, após terem contado a forma como se encontraram: ela questionava a vocação religiosa durante um retiro e ele era acólito num convento para onde a sua futura mulher queria ir.

Os dois sublinharam que o acompanhamento do grupo os ajudou, em especial nos momentos difíceis que incluíram uma ameaça durante a quarta gravidez de Cynthia e um cancro, recordando os que não têm o apoio de um grupo.

Nesse contexto, revelaram que quiseram alargar a experiência a casais em segunda união, mas o projeto acabou por falhar por falta de “à vontade” das duas partes e por um alerta da hierarquia da Igreja para que a organização se destinasse apenas a matrimónios regulares.

Ron e Mavis Pirola, da Austrália, falaram da união sexual como “parte essencial” da espiritualidade dos casais e das famílias como “modelo de evangelização para as paróquias”.

Neste contexto, abordaram temas como a homossexualidade ou o divórcio, dando o exemplo de uma família amiga que acolheu o parceiro de um filho nas celebrações do Natal.

“A sua resposta pode ser sintetizada nestas palavras: ‘ele é nosso filho’”, relataram.

253 pessoas, entre cardeais, bispos, religiosos, peritos e representantes de outras Igrejas, marcam presença na sala do Sínodo até ao próximo dia 19, para duas semanas de debate centradas nos ‘desafios pastorais sobre a família’.

A lista de participantes inclui 14 casais – um no grupo de peritos e 13 nos ouvintes – com quatro minutos disponíveis para uma intervenção, à semelhança dos bispos e cardeais que tomam a palavra durante os trabalhos.

OC

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