Sobre o culto das imagens, uma questão de decoro

Sandra Costa Saldanha

«A beleza e a cor das imagens estimulam a minha oração. É uma festa para os meus olhos, e, tal como o espetáculo do campo, impele o meu coração a dar glória a Deus»

São João Damasceno, De sacris imaginibus oratio

 

Quando em 1997 João Paulo II refletia sobre o culto das imagens – comentando a Lumen Gentium do II Concílio do Vaticano – o Santo Padre evocava, não apenas a sua utilidade, como a vivência autêntica das devoções, a busca de equilíbrio, entre o exagero e “a demasiada estreiteza”, em linha com a exortação do documento conciliar.

E é precisamente na sensatez desta procura, que a atual intervenção nas imagens religiosas tarda em ser abordada. Fruto da capacidade inventiva de cada tempo e dos homens que as materializaram, quando por imperativos de conservação carecem de tratamento, colocam em confronto as suas duas dimensões: sagrada, para veneração dos fiéis; material, para fruição estética.

Intimamente ligadas, se é conveniente intervir no estritamente necessário, como meio de prevenção e manutenção futura, é também claro que, aos fiéis, deve ser devolvida uma imagem íntegra e digna. E neste ponto, para lá da destruição material que um mau restauro provoca – aquele que manipula e não respeita autenticidade da obra, promovendo adulterações, repintes ou alterações iconográficas – ele constitui, antes de uma qualquer opção estética falível, um atentado à dimensão sagrada da imagem religiosa.

Sandra Costa Saldanha

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