Sandra Costa Saldanha, diretora do Secretariado Nacional dos Bens Culturais da Igreja
A propósito do debate que, em torno da investigação científica, se intensifica nos últimos dias, importa refletir sobre o que, em matéria de ciências humanas, tem beneficiado a Igreja. Centrada no conhecimento que, de longa data, um vasto leque de profissionais produz em torno do património religioso, mesmo quando focados em interesses mais ou menos vocacionados para os desideratos eclesiais, Igreja e Ciência tardam a conciliar-se neste domínio. Não apenas por reiteradas dificuldades de comunicação e acesso, mas, sobretudo, pelo subaproveitamento dos resultados, cujos frutos – se colhidos – em muito potenciariam a ação da própria Igreja. Ao contrário, repetem-se publicações duvidosas, ausentes de massa crítica, que nada acrescentam às comunidades que fruem esse património.
Importante contributo para um conhecimento adequado, alicerçado em processos de aprendizagem aprofundados – em áreas como a Teologia, a Liturgia ou a Iconologia – é clara a dicotomia entre as instituições. Um alheamento confrangedor, face a um trabalho que se generaliza como não inteligível, ou restrito a um meio académico fechado. E o equívoco começa aqui. Um profissional de mérito dirige eficazmente o seu discurso a qualquer tipo de público. Mas fundamentando-o num conhecimento sólido, que um diletante não possui. Desvendando caminhos e difundindo saberes, potencia também a valorização do seu âmbito de estudo, consequente e essencial, no processo de salvaguarda e estima coletiva.
Creio mesmo que se desaproveita – arriscando uma expressão tão contundentemente na ordem do dia – o “retorno científico” desse processo, resultante da transformação do conhecimento em resultados concretos, assente em anos de trabalho e projetos qualificados.