D. Joaquim Gonçalves: O bispo que explicava os documentos conciliares

Os documentos emanados do II Concílio do Vaticano foram uma grande fonte de inspiração e alicerce na escrita de D. Joaquim Gonçalves, bispo emérito de Vila Real, falecido no último dia do ano transacto.

Os documentos emanados do II Concílio do Vaticano foram uma grande fonte de inspiração e alicerce na escrita de D. Joaquim Gonçalves, bispo emérito de Vila Real, falecido no último dia do ano transacto.

O prelado, natural de Fafe, era colaborador assíduo de vários órgãos de comunicação social e deixava sempre um verdadeiro manancial linguístico e vivencial. “Em muitos cristãos a fé esmoreceu porque as pessoas deixaram de rezar em família e deixaram de frequentar os atos de fé quer por preguiça, quer por acumulação de tarefas aos domingos, quer pelo aliciamento de passatempos modernos, quer pelo cruzamento de leituras avessas à fé, quer por desmandos morais, quer por influência das companhias”, escreveu D. Joaquim Gonçalves no jornal «Voz de Trás-os-Montes», na edição de 11 de Outubro de 2012.

No mesmo artigo «Ano da Fé, Concílio e Catecismo», o bispo que gostava da sonoridade de Verdi e Rossini realça que as lacunas apontadas e “tropeços impedem o exercício e desenvolvimento da vida da fé e, só depois desses desvios, é que as pessoas foram pedir à inteligência uma justificação racional do seu afastamento, nascendo assim as teorias da descrença”.

D. Joaquim Gonçalves esteve cerca de 20 anos (1991-2011) como pastor da diocese transmontana e faleceu com 77 anos de idade. Depois de diagnosticar a realidade contemporânea, o prelado alerta: “A Igreja tem de estar onde estão as pessoas, e os jovens estão na net”. Cada época pede à Igreja uma aventura: “No século I pediu a aventura de Paulo no mundo helénico; no século XVI a ousadia dos missionários; em pleno século XXI, a aventura da net”. (In: Jornal «Notícias de Beja», 09 de Maio de 2013).

O documento «Gaudium et Spes» (GS), nascido do grande acontecimento eclesial do século XX, o II Concílio do Vaticano, foi uma pedra basilar que ajudou D. Joaquim Gonçalves a ler a sociedade actual. A política é apresentada pelo concílio como uma “arte difícil e muito nobre”. Difícil porque, além do muito e variado saber que exige de quem a exerce, ela requer ainda especiais dotes de diálogo e de criatividade. O prelado acrescenta: “É muito nobre porque a sua finalidade é servir o país, cuidar do bem comum”. E é por causa desta nobreza que vários documentos da Igreja repetem que “a actividade política pode tornar-se um modo especial de praticar o amor ao próximo”.

Percebe-se assim que uma tal visão da política “exige uma longa preparação do homem político, adesão a valores éticos fundamentais e aprendizagem dos cidadãos”. “É preciso, porém, ter sempre em conta a situação real de cada povo e o necessário vigor da autoridade pública” (GS 31).

O antigo bispo emérito de Vila Real sublinha que duas expressões do documento conciliar merecem destaque: “ter sempre em conta a situação real de cada povo” e “vigor da autoridade pública”. As manifestações de desacordo e de protesto “permitem uma certa linguagem de combate, mas não podem transformar-se num voto contra o povo e, menos ainda, no direito ao insulto e à grosseria”. Por ser difícil, a “política exige esforço e paciência; por ser nobre, merece seriedade”.

LFS

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