Paulo Rocha, Agência Ecclesia
A Doutrina Social da Igreja (DSI) tem hoje vozes ativas, atentas ao que acontece, com análises claras e intervenções pertinentes.
Recordo três dessas vozes, destes dias, para dizer que a DSI não é só da revolução industrial, mas também da digital, e passa pela palavra e pela ação de muitos cidadãos do nosso quotidiano.
A Cáritas Portuguesa num documento onde faz uma “leitura da realidade face à atual conjuntura do país”, divulgado no dia 8 de novembro, afirma: “Não basta termos soluções técnicas com efeitos a prazo. Impõe-se que haja sensibilidade e sentido de justiça para minorar drasticamente os sacrifícios de quantos são afetados pelas medidas geradas pela crise”.
Na mesma linha, a Comissão Nacional Justiça e Paz afirma que “os governos existem, não para cumprir metas orçamentais, mas para promover o bem-estar das pessoas e das famílias, de forma sustentável” e que, “com os recursos existentes no país, na União Europeia e nas instituições internacionais envolvidas, não é aceitável que sobre o povo português se faça desabar um tipo de austeridade objetivamente desumano, em resultado de objetivos financeiros transformados em finalidade última e única das políticas públicas”.
A Conferência Episcopal Portuguesa, por seu lado, diz numa mensagem sobre “Os desafios éticos do trabalho” que na raiz da crise, que é também ética, espiritual e humana, “existe uma traição ao bem comum, quer da parte do indivíduo, quer da parte de certos grupos de poder” por não darem “prioridade à pessoa e ao bem comum”.
Mais à frente, o documento do episcopado recorda “situações mais graves”, “a dos desempregados que não têm direito a qualquer forma de subsídio de desemprego”, para afirmar que “essa forma de apoio está ligada ao direito à vida e à subsistência, e decorre não só da dignidade humana mas também do princípio do uso comum dos bens”. O documento, aprovado na Assembleia Plenária da CEP e divulgado esta quinta-feira, sublinha que “compatibilizar esta obrigação de solidariedade social com a diminuição efetiva da riqueza pessoal e do próprio País é um enorme desafio que se coloca a todos os cidadãos”.
Estas, entre muitas outras, são afirmações da Doutrina Social da Igreja, ditas por protagonistas da atualidade e sobre situações muito concretas. Não se dizem nomes de pessoas ou de instituições. Nem é preciso. O primeiro é o próprio, o nome próprio de cada cidadão que não pode demitir-se do seu compromisso na construção do bem comum.
Sem nunca se afirmar como um partido político, a DSI inspira mudanças na sociedade que resultariam em felicidade para todos. Também para quem vive obstinado pela acumulação de riquezas. Não seguir essa via não é por falta de ser lembrada, em diferentes contextos.
Hoje há muitas vozes que proclamam a Doutrina Social da Igreja. Falta a escuta… E a coerência…