Brasil: Amazónia é «teste decisivo» para a Igreja e a sociedade, diz Francisco

Papa deixar plano de ação aos bispos católicos perante humanidade desiludida

Rio de Janeiro, Brasil, 27 jul 2013 (Ecclesia) – O Papa Francisco almoçou hoje com os bispos da Conferência Episcopal do Brasil, no Rio de Janeiro, e pediu que a Igreja Católica reforce a sua ação missionária à imagem do que faz na Amazónia.

A intervenção falou desta região como um “teste decisivo” para a Igreja e a sociedade brasileiras.

“A Igreja está na Amazónia, não como aqueles que têm as malas na mão para partir depois de terem explorado tudo o que puderam. Desde o início que a Igreja está presente na Amazónia com missionários, congregações religiosas, e lá continua ainda presente e determinante no futuro daquela área”, sublinhou, durante o encontro privado com os bispos católicos do país lusófono.

O Papa alargou o seu olhar sobre todo o Brasil e apontou a “educação, saúde, paz social” como “as urgências” da sociedade.

“A Igreja tem uma palavra a dizer sobre estes temas, porque, para responder adequadamente a esses desafios, não são suficientes soluções meramente técnicas”, acrescentou.

Francisco apelou à mobilização dos católicos para atender às populações desiludidas pela “globalização implacável, a urbanização frequentemente selvagem” que levaram à perda do sentido da vida.

Essas pessoas, acrescentou, sentem “o veneno interior que torna a vida um inferno, a necessidade da ternura” e passam pelas “tentativas frustradas de encontrar respostas na drogas, no álcool, no sexo que se tornam novas prisões”.

Segundo o Papa, a Igreja Católica deve aprofundar o legado do Santuário de Aparecida, com a sua lição sobre a “humildade que pertence a Deus como um traço essencial: ela está no ADN de Deus”.

“Em Aparecida, logo desde o início, Deus dá uma mensagem de recomposição do que está fraturado, de compactação do que está dividido. Muros, abismos, distâncias ainda hoje existentes estão destinados a desaparecer. A Igreja não pode descurar esta lição: ser instrumento de reconciliação”, assinalou.

Francisco admitiu que, como os pescadores que encontraram a imagem da virgem em 1717, “as redes da Igreja são frágeis, talvez remendadas” e a sua barca “não tem a força dos grandes transatlânticos que cruzam os oceanos”.

“Não devemos ceder ao desencanto, ao desânimo, às lamentações”, advertiu.

O Papa observou que “na casa dos pobres, Deus encontra sempre lugar” e pediu uma Igreja que “não tenha medo de sair” e aborde os que caminham “com a desilusão de um cristianismo considerado hoje um terreno estéril, infecundo, incapaz de gerar sentido”.

“Talvez a Igreja lhes apareça demasiado frágil, talvez demasiado longe das suas necessidades, talvez demasiado pobre para dar resposta às suas inquietações, talvez demasiado fria para com elas, talvez demasiado autorreferencial, talvez prisioneira da própria linguagem rígida, talvez lhes pareça que o mundo fez da Igreja uma relíquia do passado”, admitiu.

Nesse sentido, Francisco defendeu que “é necessária uma Igreja capaz de fazer companhia, de ir para além da simples escuta; uma Igreja, que acompanha o caminho pondo-se em viagem com as pessoas; uma Igreja capaz de decifrar a noite contida na fuga de tantos irmãos e irmãs”.

“É preciso uma Igreja capaz ainda de devolver a cidadania a muitos de seus filhos que caminham como num êxodo”, sustentou.

O Papa deixou ainda uma palavra sobre o papel das mulheres na Igreja, para as quais pediu um “papel ativo na comunidade eclesial”.

“Perdendo as mulheres, a Igreja corre o risco da esterilidade”, alertou.

OC

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