Vaticano atento a jovens «nativos digitais»

Conselho Pontifício da Cultura apresentou próxima assembleia anual, que vai contar com a presença de responsáveis portugueses

Cidade do Vaticano, 06 fev 2013 (Ecclesia) – O Conselho Pontifício da Cultura (CPC), da Santa Sé, inicia hoje a sua assembleia plenária anual, destacando a importância de compreender os jovens como “nativos digitais” na sua comunicação.

“A sua [dos jovens] língua é diferente da minha, e não é só porque usam um décimo do meu vocabulário: os nossos jovens são nativos digitais e a sua comunicação adotou a simplificação do Twitter, a imagem dos sinais gráficos dos telemóveis”, disse o presidente do CPC, cardeal Gianfranco Ravasi, na conferência de imprensa de apresentação do encontro.

A reunião anual do organismo da Cúria Romana, que decorre até sábado, é dedicada ao tema ‘Culturas juvenis emergentes’.

O cardeal Ravasi falou num “salto geracional” e destacou que esta mudança se registou “sobretudo a nível da comunicação”.

“A lógica informática binária do ‘save’ (guardar) ou ‘delete’ (apagar) regula também a moral, que é apressada: a emoção imediata domina a vontade, a impressão determina a regra, o individualismo pragmático é condicionado apenas por eventuais modas de massa”, prosseguiu.

O colaborador do Papa aludiu à imagem dos jovens que caminham com os seus auscultadores, como se estivessem “‘desligados’ da insuportável complexidade social, política, religiosa” criada pelos adultos.

“A diferença dos jovens não é apenas negativa, mas contém sementes surpreendentes de fecundidade e autenticidade”, sublinhou, elogiando os compromissos no voluntariado, o desporto, a música, a espiritualidade ou a amizade.

O bispo português D. Carlos Azevedo, delegado do CPC, apresentou o programa do evento aos jornalistas, frisando a importância de atender a fenómenos como o desemprego, a cultura digital e o “alfabeto emotivo” das novas gerações.

Estas questões, defendeu, “exigem um discernimento por parte da Igreja e uma profunda mudança de linguagem”.

“As culturas juvenis emergentes mostram a vulnerabilidade, a insegurança, a fragilidade de fórmulas repetitivas”, alertou o prelado.

À Igreja, acrescentou D. Carlos Azevedo, compete “abrir uma brecha no pessimismo, no medo do futuro, mesmo que as condições económicas e o desemprego tendam a piorar nos próximos anos”.

Os trabalhos da assembleia plenária do CPC vão abordar questões como ‘Do universo ao «multiverso», análise das culturas juvenis’, ‘Nativos digitais: linguagem e rituais’ ou a ‘Fé na juventude’.

O documento preparatório, distribuído à imprensa, fala da importância de “acolher o anseio dos jovens pela dimensão profética do Evangelho, na denúncia de hipocrisias e incoerências” e alimentar a “esperança que liberta da superficialidade e empenha as pessoas na justiça social, nas causas ecológicas e nos movimentos de superação de preconceitos”.

O cardeal Ravasi lançou uma questão aos jovens na sua conta da rede social Twitter como forma de preparar o próximo encontro: “Fé nos jovens: onde e como é que a Igreja se faz + presente para eles, com suas alegrias, esperanças, medos, necessidades?”.

O acesso à reunião anual é limitado aos membros do CPC e seus consultores, entre os quais se conta o padre Tolentino Mendonça, diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura da Igreja Católica em Portugal.

Os participantes vão ser recebidos esta quinta-feira em audiência por Bento XVI.

OC

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