D. Januário Torgal Ferreira diz que manifestações de descontentamento são «legítimas» e exigem leitura política
Lisboa, 18 out 2012 (Ecclesia) – O bispo das Forças Armadas e Segurança disse hoje em Lisboa que a população portuguesa enfrenta um “autêntico terramoto” por causa da atual crise económica e financeira, mostrando a sua compreensão face a manifestações públicas de descontentamento.
“É uma situação terrivelmente difícil”, referiu D. Januário Torgal Ferreira aos jornalistas, à margem da celebração do Dia Nacional dos Bens Culturais da Igreja, que decorre na igreja da Memória e no Mosteiro dos Jerónimos.
O prelado considerou que as manifestações populares são “perfeitamente legítimas” desde que não haja violência e as pessoas “respeitem a sua cidadania”.
“Uma manifestação é um texto com sinais muito sérios, dizendo aos responsáveis ‘nós estamos mal, ajudem-nos'”, prosseguiu, lamentando que o Governo se mostre “surdo”.
Este responsável, antigo membro da Comissão Episcopal da Pastoral Social, afirmou que os portugueses “estão perfeitamente inocentes, nunca viveram acima das suas possibilidades” e pagam agora por problemas que vêm “de muito longe”.
“Quando se diz que não há alternativas a este ‘come e cala’, isso é para cumprir uma das razões do Estado, que é pagar uma dívida, mas o Estado tem a obrigatoriedade social de coesão”, alerta.
D. Januário Torgal Ferreira disse não acreditar num “novo” 25 de abril e afirmou que, em democracia, todos os intervenientes devem assumir responsabilidades, criticando o que denominou de “distraídos e traidores do bem comum”.
O prelado falou num país a caminhar para a falência e sustentou que “não há razão para haver pobres”.
O bispo das Forças Armadas e de Segurança elogiou ainda o papel “exemplar” dos católicos no campo da solidariedade e sublinhou, por outro lado, que “a Igreja não deve entrar em jogos partidários, nunca”.
Em relação às manifestações de descontentamento por parte de militares, D. Januário Torgal Ferreira deixa votos de que as pessoas “escutem” e se “aproximem dos mais pequeninos, do ponto de vista da hierarquia”.
“Se não é possível, que se diga, ninguém pede coisas insensatas, mas quando a pessoa está em jogo não há insensatez”, concluiu.
LFS/OC
Notícia atualizada às 12h48