Cinema: Uma vida melhor

Yann é um jovem cozinheiro que cresceu numa família de acolhimento, habituado a contar com o seu ímpeto e esforço para se bastar a si próprio. Nadia, uma jovem empregada de mesa e mãe de um rapaz de nove anos que apenas conta com o seu trabalho para sustentar o agregado familiar.

Quando se conhecem, a afinidade entre ambos é imediata. Num instante, Yann e Nadia encetam vida conjunta e creem poder aceder ao seu maior sonho: abrir um restaurante. O acesso ao crédito é fácil e não tarda muito até que Yann e Nadia se empenhem em trabalho e dívidas bancárias para transformar uma cabana abandonada à beira de um lago no restaurante idealizado. O esforço, no entanto, não basta e com a chegada do inverno chegam também contas e exigências legais que em muito extrapolam a sua capacidade de fazer face ao investimento.

Começa então um longo e penoso caminho para ambos, tentando desembaraçar-se da enorme bola de neve financeira que os vai sufocando. Um processo que acabará por obrigar Nadia a emigrar para o Canadá e Yann a ver-se no inesperado papel de pai, revendo no filho adotivo parte da sua própria história. Um processo em que o fundamento da relação dos dois jovens, ainda mal consolidada, será igualmente posta à prova.

Nomeado para o grande prémio do Festival Internacional de Cinema de Tokyo, “Uma Vida Melhor” poderia ser a história de muitos casais que, levados por um facilitismo e idealismo consumista que perdurou até há poucos anos atrás, vivem hoje o drama do endividamento.

Drama construído sob duas malhas fundamentais e sem escusar a responsabilidade dos endividados, o filme explora, por um lado as teias que se tecem dentro e fora da lei em torno da situação fragilizada dos que se deixaram atrair pelo facilitismo, incluindo a hipocrisia das instituições financeiras e o desenvolvimento de uma verdadeira máfia que vive da exploração dos mais fracos; e, por outro, a resiliência humana perante obstáculos aparentemente intransponíveis, sugerindo o amor como único alicerce e fundamento capaz de enfrentar a tempestade.

Margarida Ataíde

 

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