A Pietà da Catedral de Bragança

José Tolentino Mendonça

Carregas a nossa humanidade até ao fundo do teu colo

As cidades íngremes por onde passamos, as sirenes empastadas de alarme,

O peso do corpo anoitecido

 

Não há árvore do horto de Deus que ao alto mais pura se eleve

Mas é doloroso trabalho o do amor em que inteira brilhas

Ó Mãe indefesa como um fogo

 

Passas por nós devagar as mãos protetoras

E o tempo desse amor transparente e íntimo

torna brandas as tempestades em que nos consumámos

 

Chovemos no teu regaço a nudez dos nossos sonhos

tatuados a cinza trémula e a vazio

Mas degrau a degrau, cambaleantes subimos

Quando inclinas para nós o manto, espaço da visão aberta

 

Consola-nos o abraço do teu silêncio em flor

E a canção do teu sorriso nos reergue

 

O milagre se faz ver no fruto do teu ventre

Em ti começa a palavra prometida e plena

Por isso festejamos a roda do teu colo

 

José Tolentino Mendonça

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