Presidente da Conferência Episcopal considera que principais causas da violência residem em fatores económicos e étnicos
Jos, Nigéria, 09 jul 2012 (Ecclesia) – Dezenas de pessoas foram mortas este sábado em nove aldeias cristãs do estado nigeriano de Plateau, na sequência de ataques cometidos por cerca de cem homens armados.
A violência regressou no domingo, durante o funeral das vítimas, tendo causado a morte de um senador federal e um deputado regional, anunciou hoje a Agência Fides.
O governador do estado sediado na cidade de Jos decretou o recolher obrigatório em algumas regiões durante 24 horas, adiantou o site do canal televisivo Channels.
Os ataques, que compreenderam a destruição de casas e propriedades, foram seguidos de retaliações em Jos que provocaram quatro mortos, informou a mesma fonte.
A violência contra cristãos, que segundo a Rádio Vaticano pode ter originado 90 mortos, resulta de problemas económicos e étnicos, considera D. Ignatius Ayau Kaigama, arcebispo de Jos, capital do estado de Plateau, no centro-norte da Nigéria.
Em declarações proferidas à Agência Fides em Roma, onde se deslocou para receber um prémio pela sua ação em favor da paz, o prelado rejeitou que a motivação dos homicídios se deva a diferenças religiosas.
O também presidente da Conferência Episcopal Nigeriana explicou que os pastores Fulani, alegadamente ligados aos ataques, “sentem-se vítimas de uma injustiça porque matam ou roubam o seu gado e não são compensados pelas perdas”.
Os confrontos entre as etnias Fulani e Birom, alimentados por uma história de antagonismo, também explicam a violência, sublinhou.
“Os Fulani são maioritariamente muçulmanos enquanto que os Birom são na sua maioria cristãos. Por este motivo é fácil atribuir uma leitura do género ‘muçulmanos atacam cristãos’ ou ‘cristãos atacam muçulmanos’, mas como referi o problema é principalmente económico e étnico”, frisou.
O governador, citado pelo prelado, atribui a autoria da violência a grupos provenientes do exterior do estado: “Os Fulani dispõem de uma rede que se estende a países vizinhos; aliás os agressores são mercenários de outras regiões”.
A 20 de junho o Papa Bento XVI manifestou “profunda preocupação” perante os atentados “dirigidos sobretudo contra fiéis cristãos” na Nigéria.
Cinco igrejas cristãs do estado de Kaduna, no norte do país, foram a 17 de junho alvos de ataques reivindicados pelo grupo fundamentalista islâmico ‘Boko Haram’, o que aconteceu pela terceira semana consecutiva.
As investidas causaram 23 mortos, incluindo quatro crianças que brincavam diante da Catedral de Zaria e 10 que estavam na escola da igreja evangélica de Wusasa.
Os ataques foram seguidos por represálias concretizadas por grupos armados contra a comunidade muçulmana, provocando pelo menos 48 vítimas mortais.
O grupo ‘Boko Haram’, denominação que significa ‘a educação ocidental é pecaminosa’, pretende a implementação da lei islâmica, a sharia, e é considerado responsável pela morte de 580 pessoas este ano, de acordo com a Rádio Vaticano.
O arcebispo de Jos afirmou no início de maio que “o crescente número de ataques demonstra o fracasso da política de segurança”.
OC/RJM