A Igreja tem uma proposta para quem está em busca de si próprio, uma alternativa espiritual e concreta à identidade atropelada pela altíssima velocidade a que se desenrolam os dias
O inquérito que o episcopado católico português promoveu a milhares de pessoas, através da Universidade Católica, mereceu as mais variadas considerações, com valorização e desvalorização dos números conforme a perspetiva de abordagem e com um primeiro olhar para as consequências que, necessariamente, se têm de assumir.
Entendo, a este respeito, não se devem procurar respostas fora do que é essencial para os católicos: uma espiritualidade unitária, que apresenta respostas para as questões essenciais da vida, individualmente e em sociedade – esse sentido é, aliás, valorizado por boa parte dos inquiridos.
A Igreja tem uma proposta para quem está em busca de si próprio, uma alternativa espiritual e concreta à identidade atropelada pela altíssima velocidade a que se desenrolam os dias, debaixo do bombardeamento de obrigações, preocupações, projetos e necessidades que nem sempre são fáceis de cumprir ou satisfazer.
Aos que fazem parte desta Igreja compete sair em “missão”, indo ao encontro de um país cada vez marcado pela secularização e indiferença religiosa, bem como pelo relativismo moral.
Não há Igreja sem anúncio, sem ação, ativa e criativa, assumindo uma missão que não se concebe já como partida rumo a paragens distantes, mas em propostas a quem vive mesmo ao lado, numa linguagem que exige cada vez mais traduções culturais.
Cada vez mais, neste processo, é importante lembrar o que Bento XVI veio dizer aos católicos portugueses há dois anos: menos conceção particular(ista) da fé, consequências práticas na vida social, ação perante as dificuldades geradas pela crise e um compromisso público inequívoco.
Este é um esforço que passa, em grande medida, por um protagonismo dos leigos, que compete aos bispos reconhecer e, naturalmente, orientar, porque cada vez mais a fé católica deixa de ser património comum das sociedades, mas também se multiplicam bolsas de renovação, num momento em que o país e a Europa definham, mergulhados num cenário de crise socioeconómica, mas também cultural e espiritual, que coloca em relevo a oportunidade de um discernimento orientado pela proposta criativa da Igreja.
Octávio Carmo