Homilia do bispo de Bragança-Miranda da Missa Crismal

«O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu».

 

Missa Crismal
Igreja Catedral de Bragança
05.04.2012
 
         «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu».
Este é o sentido da celebração de hoje com a bênção do azeite e a renovação das promessas sacerdotais. Tudo isto pode ser contemplado no mural da nossa igreja Catedral, que queremos tornar cada vez mais lugar de encontro com a beleza que salva, através da arte que fale do mistério acreditado, celebrado e a viver no quotidiano. Esta obra remete-nos imediatamente para a unção pascal. Até a nobreza do material usado – grés cerâmico policromado – riqueza da matéria transformada por ação do fogo.
A centralidade da liturgia episcopal e da igreja Catedral, sublinhado pelo Concílio Vaticano II (cf. SC 41), manifesta-se hoje de modo excelente. Anualmente, em Quinta-feira Santa ou Missa Crismal, os presbíteros renovam as promessas sacerdotais, consagra-se o azeite com o perfume da Confirmação, conhecido por óleo crisma e que serve também para a ordenação dos Presbíteros e dos Bispos, para a dedicação da igreja e do altar e benzem-se o azeite da unção pré-baptismal dos catecúmenos e o azeite para a unção dos enfermos.
 
1.     Antes de tudo, o ministério presbiteral apresenta-se, não como uma função, uma tarefa, uma promoção social ou religiosa, mas como um serviço a tempo inteiro que se constitui mediante a ordenação sacramental. Efetivamente, a sacramentalidade é, o rasgo mais específico do presbítero, hoje. Eis o grande mistério do qual, os presbíteros foram feitos ministros, porque se trata da participação no único sacerdócio de Jesus Cristo, no mistério de um amor sem limites, aquele da máxima sacerdotalidade na cruz (o mistério pascal).
Quanto aos meios espirituais ou de santificação, o presbítero é chamado a cuidar de modo especial da Eucaristia, para que seja o centro da comunidade paroquial, de forma que todos possam alcançar a plenitude da vida cristã. Igualmente, deverá cuidar do sacramento da Reconciliação, da visita ao Santíssimo sacramento, da visita às famílias, em particular aos doentes… Enfim, são muitas as atividades determinadas pela Igreja. Incumbe, de modo especial, ao presbítero e em especial ao pároco, o dever de promover com zelo, sustentar e acompanhar as vocações, por meio: do seu exemplo pessoal, mostrando a sua identidade, vivendo em coerência com ela, do cuidado das confissões e da direção espiritual dos jovens, da catequese sobre o ministério ordenado. O pároco é apontado, sobretudo, como um especialista do sentido da Igreja, como o homem da comunhão com a Igreja particular e com a Igreja universal.
Não faltam, certamente, aos párocos dificuldades pastorais, angústias e cansaços, nem sempre equilibrados com sadios períodos de retiro espiritual e de justo repouso. A cultura contemporânea tende também a desfigurar o presbítero da sua essencial dimensão mistérico-sacramental, que faz cair nos perigos do ativismo, do funcionalismo, e da planificação mais empresarial do que pastoral.
 
2.     Na Igreja – mistério, comunhão e missão, revelada como o corpo de Cristo, o povo de Deus que caminha na história e estabelecida como sacramento universal de salvação, descobre-se a razão fundamental do sacerdócio ministerial. Aos batizados, que receberam o dom do presbiterado, pela imposição das mãos e a oração subsequente, na ordenação sacramental, foi-lhes confiada uma missão nova e específica para agirem in persona Christi Capitis e in nomine Ecclesiae (na pessoa de Cristo Cabeça e em nome da Igreja). Através do ministério da Palavra evangelizadora, que convida à conversão e à santidade; da Palavra cultual, que dá graças pela misericórdia de Deus; pela Palavra sacramental, que é a fonte da graça, o presbítero prolonga o mistério de Cristo no próprio exercício do ministério, tornando-se o ministro do mistério. O desafio é, pois, do Mistério ao ministério vivido, fonte que jorra para a vida, sempre renovada no dom recebido pela ordenação sacramental
O caminho da esperança seja percorrido na vivência do próprio ministério quotidiano, fundamentado na Eucaristia, na Reconciliação, na Liturgia das Horas, na formação permanente, na caridade pastoral, na fraterna comunhão, na oração, na cooperação com o bispo e por tantas outras formas que a Igreja recomenda e que cada presbítero poderá seguir no exercício feliz do ministério recebido como inestimável dom e mistério.
Porque o mistério de Cristo implica o ministério da Igreja, nunca faltem presbíteros-párocos, servidores totalmente identificados com a pessoa de Cristo, o Bom Pastor que dá a vida pelos seus, amando-os até ao fim. O presbítero-pároco não é um simples coordenador ou animador competente, mas é o pastor próprio da comunidade paroquial. A todos os párocos, com afeto e admiração pelo seu trabalho na edificação do Reino, dirijo um o renovado quanto imperativo convite: sê homem de fé do mistério ao ministério!  Dizei ‘não’ ao individualismo na vida e na ação pastoral. Não nos isolemos, porque perdemos o sentido do presbitério e o sentido diocesano.
 
O seminário continua a ser a escola do Evangelho que forma os futuros presbíteros, para seguirem o único Mestre que é caminho, verdade e vida. Nunca faltarão os bons pastores à nossa diocese de Bragança-Miranda, se as paróquias forem autenticamente cristãs, onde se celebra o Mistério, se escuta a Palavra e se contempla o rosto do Amor. Se não se descobre o sentido do Mistério ao ministério sacerdotal, não se entende como pode um jovem, ao escutar na vida a palavra «Segue-Me», renuncie a tudo por Cristo, na certeza de que por esta decisiva estrada a sua personalidade humana realizar-se-á plenamente. Em consequência, auguramos e ao mesmo tempo intercedemos pelo florescimento de uma nova primavera vocacional  na Igreja de Cristo que peregrina no Nordeste transmontano.
 
3.     A Sagrada Escritura refere inúmeras virtualidades do azeite, que vão desde aquelas litúrgicas às mais quotidianas, pois com o azeite se amassavam ou cobriam os holocaustos, mas também se temperava o pão da mesa familiar; o azeite da oliveira era derramado sobre a cabeça e as vestes como símbolo da purificação e do poder concedido, mas, aplicado sobre as feridas, mantinha um importante papel reparador, como na inesquecível parábola do bom samaritano, que Jesus contou. Um dos prefácios do Missal Romano  chama mesmo ao azeite o “óleo da consolação”.
Para esta celebração, o azeite foi amavelmente oferecido pela Câmara Municipal de Mirandela, colhido das azeitonas das oliveiras dos jardins da cidade.
Se «o pão fortalece o coração do homem, o azeite faz brilhar no seu rosto a alegria», diziam os Padres da Igreja. E já Homero classificou o azeite de «ouro líquido». De facto, o azeite puro de azeitonas mantinha sempre acesas as lâmpadas do candelabro, no Templo do Senhor. Por isso, o azeite integrava naturalmente os bens que constituiam a oferta em Israel.
Hoje, temos a alegria de ver o conjunto completo das três magníficas anforas em prata dos santos óleos da Catedral e a respectiva caixa em pau-santo que ficou no antigo paço episcopal, hoje Museu Abade Baçal. Estas peças tão originais do séc. XVIII são um preciosos legado da fé cristã em terras de Bragança-Miranda.
Gostaria de concentrar a nossa atenção no azeite do crisma ou myrion. Este azeite de oliveira é consagrado com a essência do perfume em sinal de alegria.
Na unção depois do Baptismo, o celebrante unge com o Crisma da salvação dizendo: «para que permaneçais, eternamente, membros de Cristo sacerdote, profeta e rei».
Na celebração da Confirmação o Bispo traça o sinal da cruz na fronte do confirmando, dizendo: «n., recebe, por este sinal, o espírito santo, o dom de Deus».
Na ordenação do Bispo, O Bispo ordenante principal unge a cabeça do Ordenado, ajoelhado diante de si, dizendo: «Deus, que te fez participante do sumo sacerdócio de Cristo, derrame sobre ti o bálsamo da unção espiritual, e te faça abundar em frutos de bênção».
Na ordenação dos Presbíteros, o Bispo unge com o santo crisma as palmas das mãos de cada Ordenado, ajoelhado diante de si, dizendo: «O Senhor Jesus Cristo, a Quem o Pai ungiu pelo Espírito Santo e seu poder, te guarde para santificares o povo cristão e ofereceres a Deus o sacrifício».
Caríssimos irmãos e irmãs, a liturgia de hoje interpela-nos a todos a sermos o bom perfume de Cristo na vida.                                                                                                  + J. Cordeiro
 

Este é o sentido da celebração de hoje com a bênção do azeite e a renovação das promessas sacerdotais. Tudo isto pode ser contemplado no mural da nossa igreja Catedral, que queremos tornar cada vez mais lugar de encontro com a beleza que salva, através da arte que fale do mistério acreditado, celebrado e a viver no quotidiano. Esta obra remete-nos imediatamente para a unção pascal. Até a nobreza do material usado – grés cerâmico policromado – riqueza da matéria transformada por ação do fogo.

A centralidade da liturgia episcopal e da igreja Catedral, sublinhado pelo Concílio Vaticano II (cf. SC 41), manifesta-se hoje de modo excelente. Anualmente, em Quinta-feira Santa ou Missa Crismal, os presbíteros renovam as promessas sacerdotais, consagra-se o azeite com o perfume da Confirmação, conhecido por óleo crisma e que serve também para a ordenação dos Presbíteros e dos Bispos, para a dedicação da igreja e do altar e benzem-se o azeite da unção pré-baptismal dos catecúmenos e o azeite para a unção dos enfermos.

 

1. Antes de tudo, o ministério presbiteral apresenta-se, não como uma função, uma tarefa, uma promoção social ou religiosa, mas como um serviço a tempo inteiro que se constitui mediante a ordenação sacramental. Efetivamente, a sacramentalidade é, o rasgo mais específico do presbítero, hoje. Eis o grande mistério do qual, os presbíteros foram feitos ministros, porque se trata da participação no único sacerdócio de Jesus Cristo, no mistério de um amor sem limites, aquele da máxima sacerdotalidade na cruz (o mistério pascal).

Quanto aos meios espirituais ou de santificação, o presbítero é chamado a cuidar de modo especial da Eucaristia, para que seja o centro da comunidade paroquial, de forma que todos possam alcançar a plenitude da vida cristã. Igualmente, deverá cuidar do sacramento da Reconciliação, da visita ao Santíssimo sacramento, da visita às famílias, em particular aos doentes… Enfim, são muitas as atividades determinadas pela Igreja. Incumbe, de modo especial, ao presbítero e em especial ao pároco, o dever de promover com zelo, sustentar e acompanhar as vocações, por meio: do seu exemplo pessoal, mostrando a sua identidade, vivendo em coerência com ela, do cuidado das confissões e da direção espiritual dos jovens, da catequese sobre o ministério ordenado. O pároco é apontado, sobretudo, como um especialista do sentido da Igreja, como o homem da comunhão com a Igreja particular e com a Igreja universal.

Não faltam, certamente, aos párocos dificuldades pastorais, angústias e cansaços, nem sempre equilibrados com sadios períodos de retiro espiritual e de justo repouso. A cultura contemporânea tende também a desfigurar o presbítero da sua essencial dimensão mistérico-sacramental, que faz cair nos perigos do ativismo, do funcionalismo, e da planificação mais empresarial do que pastoral.

 

2. Na Igreja – mistério, comunhão e missão, revelada como o corpo de Cristo, o povo de Deus que caminha na história e estabelecida como sacramento universal de salvação, descobre-se a razão fundamental do sacerdócio ministerial. Aos batizados, que receberam o dom do presbiterado, pela imposição das mãos e a oração subsequente, na ordenação sacramental, foi-lhes confiada uma missão nova e específica para agirem in persona Christi Capitis e in nomine Ecclesiae (na pessoa de Cristo Cabeça e em nome da Igreja). Através do ministério da Palavra evangelizadora, que convida à conversão e à santidade; da Palavra cultual, que dá graças pela misericórdia de Deus; pela Palavra sacramental, que é a fonte da graça, o presbítero prolonga o mistério de Cristo no próprio exercício do ministério, tornando-se o ministro do mistério. O desafio é, pois, do Mistério ao ministério vivido, fonte que jorra para a vida, sempre renovada no dom recebido pela ordenação sacramental

O caminho da esperança seja percorrido na vivência do próprio ministério quotidiano, fundamentado na Eucaristia, na Reconciliação, na Liturgia das Horas, na formação permanente, na caridade pastoral, na fraterna comunhão, na oração, na cooperação com o bispo e por tantas outras formas que a Igreja recomenda e que cada presbítero poderá seguir no exercício feliz do ministério recebido como inestimável dom e mistério.

Porque o mistério de Cristo implica o ministério da Igreja, nunca faltem presbíteros-párocos, servidores totalmente identificados com a pessoa de Cristo, o Bom Pastor que dá a vida pelos seus, amando-os até ao fim. O presbítero-pároco não é um simples coordenador ou animador competente, mas é o pastor próprio da comunidade paroquial. A todos os párocos, com afeto e admiração pelo seu trabalho na edificação do Reino, dirijo um o renovado quanto imperativo convite: sê homem de fé do mistério ao ministério! Dizei ‘não’ ao individualismo na vida e na ação pastoral. Não nos isolemos, porque perdemos o sentido do presbitério e o sentido diocesano.

 

O seminário continua a ser a escola do Evangelho que forma os futuros presbíteros, para seguirem o único Mestre que é caminho, verdade e vida. Nunca faltarão os bons pastores à nossa diocese de Bragança-Miranda, se as paróquias forem autenticamente cristãs, onde se celebra o Mistério, se escuta a Palavra e se contempla o rosto do Amor. Se não se descobre o sentido do Mistério ao ministério sacerdotal, não se entende como pode um jovem, ao escutar na vida a palavra «Segue-Me», renuncie a tudo por Cristo, na certeza de que por esta decisiva estrada a sua personalidade humana realizar-se-á plenamente. Em consequência, auguramos e ao mesmo tempo intercedemos pelo florescimento de uma nova primavera vocacional na Igreja de Cristo que peregrina no Nordeste transmontano.

 

3. A Sagrada Escritura refere inúmeras virtualidades do azeite, que vão desde aquelas litúrgicas às mais quotidianas, pois com o azeite se amassavam ou cobriam os holocaustos, mas também se temperava o pão da mesa familiar; o azeite da oliveira era derramado sobre a cabeça e as vestes como símbolo da purificação e do poder concedido, mas, aplicado sobre as feridas, mantinha um importante papel reparador, como na inesquecível parábola do bom samaritano, que Jesus contou. Um dos prefácios do Missal Romano chama mesmo ao azeite o “óleo da consolação”.

Para esta celebração, o azeite foi amavelmente oferecido pela Câmara Municipal de Mirandela, colhido das azeitonas das oliveiras dos jardins da cidade.

Se «o pão fortalece o coração do homem, o azeite faz brilhar no seu rosto a alegria», diziam os Padres da Igreja. E já Homero classificou o azeite de «ouro líquido». De facto, o azeite puro de azeitonas mantinha sempre acesas as lâmpadas do candelabro, no Templo do Senhor. Por isso, o azeite integrava naturalmente os bens que constituiam a oferta em Israel.

Hoje, temos a alegria de ver o conjunto completo das três magníficas anforas em prata dos santos óleos da Catedral e a respectiva caixa em pau-santo que ficou no antigo paço episcopal, hoje Museu Abade Baçal. Estas peças tão originais do séc. XVIII são um preciosos legado da fé cristã em terras de Bragança-Miranda.

Gostaria de concentrar a nossa atenção no azeite do crisma ou myrion. Este azeite de oliveira é consagrado com a essência do perfume em sinal de alegria.

Na unção depois do Baptismo, o celebrante unge com o Crisma da salvação dizendo: «para que permaneçais, eternamente, membros de Cristo sacerdote, profeta e rei».

Na celebração da Confirmação o Bispo traça o sinal da cruz na fronte do confirmando, dizendo: «n., recebe, por este sinal, o espírito santo, o dom de Deus».

Na ordenação do Bispo, O Bispo ordenante principal unge a cabeça do Ordenado, ajoelhado diante de si, dizendo: «Deus, que te fez participante do sumo sacerdócio de Cristo, derrame sobre ti o bálsamo da unção espiritual, e te faça abundar em frutos de bênção».

Na ordenação dos Presbíteros, o Bispo unge com o santo crisma as palmas das mãos de cada Ordenado, ajoelhado diante de si, dizendo: «O Senhor Jesus Cristo, a Quem o Pai ungiu pelo Espírito Santo e seu poder, te guarde para santificares o povo cristão e ofereceres a Deus o sacrifício».

Caríssimos irmãos e irmãs, a liturgia de hoje interpela-nos a todos a sermos o bom perfume de Cristo na vida.

+ J. Cordeiro

 

 

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