Ecumenismo: «A doença é um terreno de comunhão»

«Fazemo-nos notados pelas diferenças mas temos de aprender a fazer-nos notados pela comunhão», considera o padre José Cruz, capelão hospitalar

Lisboa, 17 jan 2012 (Ecclesia) – O hospital, espaço onde “todas as horas” se encontram situações de “sofrimento”, é um lugar de fragilidade e conversão onde o diálogo ecuménico faz parte do remédio para a cura ou para uma morte reconciliada com a vida.

“As pertenças a confissões religiosas diferentes não são impedimento para estarmos uns com os outros, sem impingir o que quer que seja, descobrindo que a doença é um terreno de comunhão”, afirma o padre José Cruz, capelão hospitalar, em declarações publicadas na edição de hoje do Semanário Agência ECCLESIA, cujo dossier é dedicado à Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos, que começa quarta-feira.

Para o assistente espiritual dos hospitais dos Capuchos e CUF Descobertas, em Lisboa, a separação dos cristãos deve-se à incapacidade para aceitar a diversidade: “Só nos dividimos porque não soubemos integrar”.

“Fazemo-nos notados pelas diferenças mas temos de aprender a fazer-nos notados pela comunhão”, acrescentou o sacerdote, sublinhando que o contacto com “as pessoas que estão na condição de doença” implica respeitar a sua consciência: “Não tenho de invadir mas de viver o que acredito”, salienta.

“Temos de ver a verdade. E a verdade maior é a do amor, que nos faz ser para todos, respeitando o seu espaço e a forma diferente de ser”, observa o sacerdote, que procura fazer “pontes” entre as pessoas de outras religiões e os seus ministros.

O assistente espiritual considera que é possível “viver o culto de forma diferente mas fazer muitas coisas em comum” porque, justifica, “a unidade não é sermos todos iguais” mas vivê-la “na pluralidade”.

O sacerdote está convencido que é preciso “banir” do vocabulário católico a palavra “seita”, designação genérica aplicada a novos movimentos religiosos, porque “nesses grupos também há pessoas boas”, embora seja preciso alertá-los “para não prometerem aquilo que não podem ou criarem teatros para iludir as pessoas”.

O padre José Cruz, que aprendeu a rezar a Ave-Maria no fim da missa com o irmão Roger, pastor protestante fundador da comunidade ecuménica de Taizé, em França, assinala que se veem hoje “mais católicos com a Bíblia na cabeceira”.

O capelão diz ser “possível” que um dos causadores do cisma do século XVI, o monge católico Martinho Lutero, esteja “na comunhão dos santos” por ter denunciado “o que não estava certo”.

A Igreja Católica “muito deve a ele porque a fez acordar para o essencial”, acentua o sacerdote, acrescentando que “por vezes as pessoas inconvenientes numa dada hora são depois profundamente regeneradoras”.

O trabalho do padre José Cruz estende-se igualmente a quem não manifesta qualquer pertença religiosa, dado que “os não crentes também têm a sua espiritualidade”, ou seja, “um sentido para a vida”.

“Os não crentes acreditam no amor, na verdade, na justiça, na esperança, na liberdade. Tudo isto constrói a espiritualidade”, explica.

As preces pela união das confissões cristãs devem ser uma preocupação constante: “Não façamos apenas uma Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos mas façamos este caminho a cada dia”, aponta.

O Oitavário, que decorre até 25 de janeiro, é dedicado ao tema “Todos seremos transformados pela vitórias de nosso Senhor Jesus Cristo”, frase apoiada na carta bíblica de São Paulo aos Coríntios.

PRE/RJM

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