Ano Europeu do Envelhecimento Ativo

Élio Abreu, presidente da Direção Nacional do Vida Ascendente – Movimento Cristão de Reformados

1 – Que oportunidades oferece no contexto atual?

Melhorar a compreensão de que atingir os 60 ou a “reforma” é apenas uma nova etapa da vida, que convém organizar, adotando uma nova arte de viver e apreciando a vida pelo seu grande valor.

O envelhecimento é uma realidade biológica, tendo cada pessoa um “relógio” próprio: duas pessoas com a mesma longevidade têm diferente idade biológica. O idoso/reformado não está “reformado” da Sociedade: pode/deve (enquanto tiver condições) cultivar a troca e partilha de saberes, dos saber-fazer e dos saber-ser, que representa o verdadeiro sentido duma existência autenticamente humana e fraterna.

– Aproveitar a ocasião para dar a conhecer a realidade de diferentes níveis de envelhecimento: este não evolui de modo uniforme e, a partir de certa idade, há diferenças significativas entre os mais velhos.

Fazer pensar em aspetos chocantes, frequentes,  como: o isolamento/solidão – a família abandona os mais velhos geralmente com a desculpa de falta de espaço, de condições ou de tempo; a falta de atenção por aquilo que dizem, considerando que já não têm opiniões válidas; a ignorância/falta de consciência da riqueza que representa a experiência de vida, património dos mais velhos; a recusa em conhecer o que se passou nos tempos em que eles viveram; etc.

 

2 – Que prioridades deverá sublinhar?

– A primeira prioridade é através dos meios políticos, que têm capacidade decisória, para acabarem de vez com discursos teóricos, por vezes demagógicos, e encararem de frente os problemas com que se debatem as famílias quando têm idosos com necessidades especiais de assistência. São muito preocupantes, relativamente aos reformados mais velhos, as medidas que se traduzam em cortes nas reformas ou nos meios de assistência na doença.

– Chamar a atenção dos idosos para as importantes vantagens de não se isolarem e procurarem dar objetivos às suas vidas (sem os constrangimentos dos horários de trabalho e a pressão/stress dos empregos), conforme as suas condições: tempo de turismo, designadamente cultural, dos hobbies, de entrar no mundo das associações e do voluntariado, de cultivar a arte de ser avô/ó, de estudar numa Universidade, de aprofundar a relação com Deus, destino comum, e com os outros na Caridade/Amor…- aqui o apoio a outros idosos, designadamente da 4ª idade, seria uma prioridade.

– A solidariedade entre gerações: sendo bem conhecida a grande generosidade e espírito de iniciativa das gerações mais novas quando para tal motivadas, haveria que chamar-lhes a atenção para o vasto campo de idosos que carecem absolutamente de apoio. Os mais novos poderiam colaborar para solucionar ou encontrar soluções para minorar estes problemas, muitos dos quais são chocantes, atentatórios da dignidade humana.

Por outro lado não se pode esquecer a transmissão de valores, experiência e sabedoria de que as gerações mais novas podem usufruir nesse contacto.

 

3 – Como vivê-lo no contexto português?

Divulgação muito ampla das Organizações/Movimentos (objetivos, localização, contactos) que podem apoiar idosos, consoante as necessidades. A título de meros exemplos: Centros de Convívio da 3ª Idade em Paróquias; Movimento Esperança e Vida; Conferências de S. Vicente de Paulo; APAV – Ass. Port.ª de Apoio à Vítima; APG – Ass. Port.ª de Gerontopsiquiatria.

Aprender a envelhecer é, no contexto, muito importante e existe, reconhecido pela Igreja, um movimento adequado,  que propõe uma reflexão cristã e uma partilha fraterna sobre o sentido da vida, os compromissos e os desafios atuais da sociedade – é a Vida Ascendente, Movimento Cristão de Reformados – cujos objetivos são  Espiritualidade,  Apostolado/Serviço e Amizade. O tema de reflexão para 2011/2012 é o dom da longevidade, tratado em “Ouro de cada tempo, mel de cada flor” de D. António Marcelino – “Porque ninguém pode viver sem amor, não podemos esquecer que somos todos irmãos e que a solidariedade fraterna não é um sentimento, mas a expressão central da fé e da caridade cristã”.

– O envelhecimento ativo, hoje frequente, não é panaceia para resolver os problemas resultantes do envelhecimento. A saúde dos mais velhos é condicionada por leis biológicas e, naturalmente, as necessidades de apoio vão aumentando mesmo naqueles que se mantêm ativos e até participam em ações de voluntariado. Nem todas as pessoas têm a resistência e a saúde de um Manoel de Oliveira, Adriano Moreira ou Mário Soares, normalmente citados como exemplos de “envelhecimento ativo”.

Élio Abreu, presidente da Direção Nacional do Vida Ascendente – Movimento Cristão de Reformados

Partilhar:
plugins premium WordPress
Scroll to Top