Homilia do bispo de Viseu na missa da Meia-noite


O Pai Natal está em crise… Viva Jesus que vem

O Natal está a ficar diferente. Ainda que não tenha havido tempo para mudar alguns enfeites e preparativos e ainda que as montras e as ruas continuem a mostrar o Natal de antigamente, as coisas estão a ficar diferentes. O Natal das prendas parece estar esgotado. O Pai Natal parece estar velho, cansado e ultrapassado e, sem prendas para distribuir, entra em crise e está para morrer… Alguns choram e lamentam ter-se perdido um Natal tão bonito, feito nas grandes catedrais do comércio, do negócio, dos divertimentos e das prendas. Outros começam a gostar da mudança e partilham cantos, palavras e gestos que significam e distribuem ternura, carinho, alegria, amor e paz. Aprender a viver e a celebrar com menos dinheiro e com mais simplicidade, dá-nos tempo para olhar e ouvir mais as pessoas e para notar que, afinal, o Natal é o nascimento de Jesus. Na verdade, o Natal fala-nos de um Menino que vem de Deus, que Se chama Jesus e que vem para nós e que quer viver connosco. Não parece ser rico como era o Pai Natal. Não desce pelas chaminés, não enche sapatinhos, não distribui ilusões nem inunda tudo de papéis de embrulho… Porém, este Menino sorri e distribui sorrisos, estende as mãos às crianças, aos doentes, aos idosos e aos pobres e saúda a todos com gestos muito amigos. É pobre e vem sem nada; não traz prendas, mas oferece-nos tudo, caso O aceitemos na nossa vida e Lhe abramos o nosso coração.

Assim, é mesmo Natal, pois o Natal é o nascimento de uma Criança que vem de Deus para nos mostrar o caminho que nos leva ao encontro com os irmãos. Convida-nos a amar a todos, seguindo o mesmo Deus. De acordo com a 1ª leitura que ouvimos, os demónios sem rosto, causadores das trevas, da morte, da violência, da escravidão, da falta de esperança e de sentido… esses demónios foram vencidos com o Natal. Com Jesus, que é Luz, Vida e Liberdade, tudo o que era força oculta e causadora de mal ficou derrotado, porque Jesus está do nosso lado e do lado do bem e Ele tem mais força do que qualquer mal… Então, a Sua pobreza e a Sua fraqueza são só aparentes, pois Ele é Amor e o amor tudo pode, tudo vence, tudo faz por nós e para nossa salvação.

Precisamos de aprender esta lógica do amor – que é a lógica de Deus – para vencer as graves crises que nos afetam… Enquanto a lógica dos homens vai inventando pai natais que nada podem e nada fazem e se vão contradizendo e anulando uns aos outros; enquanto ao jeito de pais natais – velhos e ultrapassados – os poderosos deste mundo nos vão iludindo com promessas e com teorias que vão alargando mais as injustiças e aumentando mais o sofrimento, a exclusão e as diferenças entre uns e outros… Enquanto isso, a lógica de Deus oferece-nos o Amor que é o permanente apelo à dádiva, à partilha, à solidariedade, à justiça e à paz…

Não façamos como, outrora, em Belém! Lá não deram lugar a Jesus nas hospedarias… Acolhamos, aceitemos, abramos o coração ao Natal de Deus e deixemos vir Jesus Cristo, como Luz, Vida e Liberdade, ao nosso coração. Que Ele, nascendo em nós, preencha toda a nossa vida e dê sentido a toda a nossa existência!… Comprovaremos, com os pastores, que é verdade o que nos foi prometido e nós próprios nos tornaremos anunciadores do Natal do Amor, da Justiça e da Paz. Como conclui São Paulo na 2ª leitura, “manifestou-se a graça de Deus, fonte de salvação para todos. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade”… Esta é a sugestão que deve nortear todos os orçamentos individuais para equilíbrio da nossa espiritualidade e da nossa conduta. Como nos pedia o profeta Isaías, levemos a sério as Suas sugestões, pois “Ele será chamado «Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz». Por isso, ouçamos o Anjo: «não temais, porque vos anuncio uma grande alegria – nasceu um Salvador que é Cristo Senhor» … Com os Anjos e partilhando a alegria dos pastores, acolhamos as lições do Natal, sejamos pessoas de esperança e anunciemos, também nós, a grande novidade desta noite: «Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados». Vem, Senhor Jesus!

D. Ilídio Leandro, bispo de Viseu

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