O Diaconado enfrenta novos desafios

Padre Georgino Rocha, diocese de Aveiro

1. Restaurado pelo Vaticano II, após porfiados esforços de pioneiros notáveis na área da diaconia pastoral sociocaritativa, o diaconado permanente vê o seu perfil ser definido por Paulo VI. É um perfil suficientemente claro, mas reduzido ao fundamental, que necessita de ser recriado fielmente em cada situação histórica. Depois surgem experiências diversas de acordo com as facetas da missão que as Igrejas diocesanas privilegiam e com as exigências do contexto social que desejam atender prioritariamente. Essa diversidade revela um rosto ministerial pluriforme, um serviço eclesial com múltiplas acentuações, uma Igreja em missão com enormes desafios e grandes interrogações num mundo em franca mudança de época.

Em Portugal, realiza-se a 1ª Semana de Estudos sobre o Diaconado permanente, em 1979, dando seguimento às Diretivas para a admissão e ordenação de candidatos nas Dioceses de Portugal, publicadas pela CEP.

 

2. A par destas experiências, outros fatores suscitam novos dinamismos: o aprofundamento da eclesiologia de comunhão orgânica e dinâmica, a promoção da dignidade dos leigos e sua progressiva responsabilização na Igreja e na sociedade, a caminhada de renovação do ministério ordenado e a situação delicada em que se encontram os presbíteros na maioria das dioceses. Estes e outros fatores fazem emergir a consciência da necessidade de “iniciar uma segunda etapa da história do Diaconado permanente em Portugal” .

 

3. A Igreja está consciente da importância do diaconado como ministério ordenado. Pode afirmar como Santo Inácio de Antioquia que, depois de mencionar o bispo, os presbíteros e os diáconos, afirma textualmente: “Sem eles, não se pode falar de Igreja” (CIC 1538).

É preciso, por isso, que este Dom do Espírito encontre um terreno favorável (Mt 13, 8 e 23) à sua fecundidade e desenvolvimento.

 

4. A configuração sacramental do diácono a Cristo Servo traduz a nível institucional, de forma peculiar, a vocação da Igreja serva e pobre no meio do mundo. O que faz parte da vocação de todos na Igreja, é realizado por alguns, de forma significativa especial. Integrado no ministério pela ordenação sacramental, o diácono re-presenta e aviva, junto do bispo e dos presbíteros, a dimensão de serviço que dá sentido à missão comum, embora realizada de forma específica diferenciada. A sua função pastoral é definida na nomeação canónica.

Inserido na comunidade eclesial, como membro que desempenha uma função peculiar, visualiza o que faz parte da vocação original de toda a comunidade e coopera no seu desenvolvimento pleno. Fazendo parte da sociedade como cidadão responsável interessa-se por tudo o que diz respeito ao Bem Comum, desi-gnadamente naquelas áreas em que a pessoa humana pode ser ferida na sua dignidade.

A identidade do diácono manifesta-se, pois, em ser sinal de Cristo-Servo e animador da diaconia na Igreja. O que é comum a todos, é sacramental no diácono.

 

5. A missão do diácono é extensiva a toda a ação pastoral da Igreja. Participa, por isso, a seu modo, do tríplice ministério e das respetivas concretizações: da palavra, da liturgia e da caridade. O Vaticano II apresenta, de forma paradigmática, essa participação, tendo em conta a praxis predominante nas comunidades antigas e deixando “campo” aberto aos novos contextos sócio-culturais e religiosos que venham a surgir. O Diretório de 1998 enumera com razoável minúcia as diversas funções do ministério do diácono, a partir dos horizontes pastorais da Igreja na mudança de Milénio.

A sua relação com o bispo diocesano é sempre uma relação humana, sacramental e pastoral, pois dele recebe o apelo a ser diácono, o discernimento vocacional, a ordenação e o envio em missão.

 

7. A missão do diácono tem três âmbitos primordiais: familiar, profissional e eclesial, todos impregnados da mesma espiritualidade de serviço à maneira de Jesus Cristo. A prioridade vai para a família, quando é casado ou viúvo; vem depois a profissão e a comunidade eclesial ou serviço apostólico.

A amplitude do seu ministério é sinal e instrumento de uma Igreja de “portas abertas”, respeitadora da laicidade das realidades humanas, samaritana dos “feridos da vida” nos quais contempla o rosto de Cristo. Como é expressivo o erguer do cálice pelo diácono na celebração eucarística!

 

8. A especificidade do ministério diaconal revela-se e constrói-se no jeito de ser pessoa e de fazer “as coisas”, na audácia de servir e fomentar a diaconia em todos os membros da comunidade em ordem ao bem eclesial, e, a título diferente, da sociedade com vista a promover a cidadania responsável.

Em conclusão, “se a Igreja precisa de diáconos, não é porque lhe faltem sacerdotes, mas porque é Igreja”. Importa prosseguir com renovada ousadia o caminho andado e recriar, na fidelidade aos traços da fisionomia tradicional, novas configurações diaconais exigidas pelas grandes transformações em curso. Será mais um desafio desta mudança de época que a nossa geração está chamada a enfrentar corajosa e lucidamente.

Padre Georgino Rocha, delegado episcopal da diocese de Aveiro

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Agência ECCLESIA

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