Comunicação digital na imprensa regional: uma nova era de oportunidades?

Pedro Jerónimo, Observatório de Ciberjornalismo

Quem são os leitores da imprensa de inspiração cristã? E quem se prevê que sejam os seus futuros leitores? O que é que está a ser feito para ir ao seu encontro? Interrogações que surjem num período em que o consumo de informação que circula em plataformas digitais está em franco crescimento. E, entretanto, já passaram 15 anos desde a chegada da Internet às redações dos media portugueses. Quais têm sido as estratégias adotadas, sobretudo ao nível local e regional?

É incontornável falar em imprensa regional de inspiração cristã, quando se pretende olhar para o percurso da imprensa em Portugal. Nesse campo, surgiu há poucos meses um contributo relevante, que ajuda a responder à primeira questão aqui formulada. “Da imprensa regional da Igreja Católica: para uma análise sociológica” é o título da tese de doutoramento que Manuel Leite defendeu no ISCTE, no final de 2010. A partir dela, ficou a saber-se que: é uma imprensa lida, maioritariamente, por pessoas com mais de 65 anos; que um terço dos profissionais tem mais de 50 anos e 25% menos de 30; quase todos, 80%, têm carteira profissional de jornalista. Já quanto aos próprios conteúdos, diz o autor que “não há cuidado com a imagem e por vezes os textos são ilegíveis” e que “além de descontextualizados da atualidade, os artigos de opinião utilizam uma linguagem repetitiva e moralista, confundindo o discurso do altar com o discurso dos media”. Esta são, resumidamente, algumas das conclusões da citada tese. Mas e quanto à realidade online?

Um ano após a chegada da Internet às redações portuguesas, 1996, já a Associação de Imprensa de Inspiração Cristã começava a debater “As novas tecnologias na produção da Imprensa Regional” – naquele que foi o seu segundo congresso. Desde então, o tema esteve presente nas cinco edições que se lhe seguiram. Quinze anos depois, a realidade é que dos cerca de 200 associados – jornais, boletins, revistas, etc. – apenas 42% têm página na Internet. E mesmo aqueles que estão presentes na web, pouco mais fazem do que reproduzir os conteúdos que publicam em papel. Por outras palavras, trata-se do shovelware – primeira fase do ciberjornalismo. É o que sucede, de uma maneira geral, por entre os principais título de imprensa regional em Portugal. Um estudo desenvolvido recentemente – pelo autor destas linhas – revelou que os jornais regionais que mais vendem em papel, nos respetivos distritos, aproveitam pouco as potencialidades da Internet (21,4%). Entre eles, alguns de inspiração cristã. Ainda assim, há exceções.

Estudos tem apontado para o crescimento dos acessos à Internet, da utilização de smartphones (telemóveis multifunções) e dos tablets (computadores do tamanho de uma folha A4). Isso acontece entre as camadas mais jovens, os potenciais leitores daquilo que hoje é conhecido por imprensa de inspiração cristã, mas que na realidade é mais do que isso. Com o aparecimento da Internet, os jornais deixaram de ser meros difusores de informação. Passaram a ser marcas com mais do que um canal de distribuição. E esta já não se dá num único sentido, isto é, os antigos leitores (atuais utilizadores) também já produzem informação. Deixaram de ser consumidores passivos. Têm telemóveis, estão nas redes sociais online… onde comunicam o seu dia a dia. Não estar próximo dessas pessoas, é ignorar a missão primária não só dos próprios meios de comunicação social, como também da instituição que lhes serve de inspiração.

A Igreja deu, recentemente, uma prova de que está atenta à realidade, às mutações que ocorrem na sociedade. A última Jornada Mundial da Juventude, em Madrid, é disso exemplo. Foi um evento que mostrou o Vaticano e a organização local particularmente ativos nas novas plataformas digitais e nas redes sociais online, como o Facebook, Twitter, YouTube… Resumindo: conhecia o seu público e os canais que o mesmo previligia. E foi através deles que “dialogou”, isto é, que comunicou as suas informações e que recebeu as de milhares de jovens peregrinos. Eis, pois, um bom exemplo para a imprensa regional de inspiração cristã refletir e agir. Há outros exemplos, vindos de dentro. Basta olhar com atenção para os principais jornais regionais das dioceses portuguesas, para se perceber quem está atento e em conversação. Oportunidades não faltam e as ferramentas – gratuítas – estão aí.

Pedro Jerónimo, Observatório de Ciberjornalismo 

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