A realidade como ponto de partida para os novos caminhos…

Joaquim Cadete, professor da Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da UCP

As proporções que o atual caso grego está a tomar evidenciam que haverá pouca condescendência por parte dos vários parceiros comunitários na partilha dos custos associados ao nosso processo de reequilíbrio financeiro. Dado que nada fazer não é opção, e que esperar que os outros nos salvem também não, importa encontrar novos caminhos. A primeira tarefa passa por ter a coragem de promover uma redução efetiva da despesa pública já hoje. O processo implica o anular do despesismo, o repensar das prioridades e inevitavelmente mais reduções salariais. Importa referir que cortar salários não implica necessariamente ausência de justiça social – apenas força a escolhas devidamente fundamentadas e explicadas publicamente.

Ao nível das empresas, o atual contexto de globalização obriga necessariamente a um esbater da tradicional oposição entre patrões e trabalhadores. A anulação de barreiras alfandegárias, ou de efeitos cambiais, possibilita uma comparação direta do preço de bens similares por parte dos consumidores finais. Face a este processo, a única forma de sobreviver a prazo para as empresas passa pelo reforço da competitividade e da inovação. Importa fazer o mesmo com menos recursos e inovar de forma à apropriação de maior margem financeira. No entanto, vários fatores podem limitar seriamente a competitividade de uma indústria: a reduzida flexibilidade do mercado laboral, o excessivo peso do Estado na economia e os elevados custos energéticos e de transporte. A perda de competitividade traduz-se numa incapacidade em vender os bens produzidos domesticamente e consequente encerramento de unidades laborais e deslocalização da produção. Os trabalhadores perdem o emprego que detinham enquanto os patrões perdem o capital que investiram. A solução para o problema passa inevitavelmente por uma parceria entre ambos a qual assenta em menores salários, mais capital para inovar e menos entraves pelo Estado. O não funcionamento da justiça é uma limitação objetiva para o normal desenrolar da atividade económica e raramente é alvo de reivindicação sindical.

Em termos externos, o futuro próximo de Portugal passará igualmente pelo papel de estabelecer pontes entre a Europa e o mundo Lusófono o que implica uma complementaridade da visão europeísta com o atlantismo. Atualmente a Europa defronta várias ameaças das quais se destacam o não controlo da reserva alimentar estratégica, das fontes de energia não renovável e das matérias-primas. A resolução destes problemas, na minha opinião, passa pelo reconquistar da esfera de influência europeia, nomeadamente, junto dos países africanos. A estratégia que a China tem adotado relativamente a África é um bom exemplo de quais os passos a tomar. Entre 2000 e 2005, a China investiu cerca de USD30 biliões no continente africano construindo escolas, hospitais e redes de transportes rodoviários e ferroviários. Paralelamente, em 2000 subscreveu USD1.2 biliões de dívida Africana e em 2003 perdoou USD750 milhões de dívida. Por fim, assinou em 2006 um acordo de trocas comerciais no montante de USD60 biliões. Através desta política o governo chinês conseguiu o controlo do acesso às matérias-primas e a crescente simpatia dos estados africanos. Cabe agora ao Ocidente seguir o exemplo da China e potenciar o seu próprio crescimento pelas sinergias decorrentes do investimento direto estrangeiro nestes países. Para o efeito, Portugal pode liderar este movimento dado que o seu passado lhe confere uma vantagem comparativa.

O insucesso neste novo caminho conduzir-nos-à inevitavelmente à impossibilidade de honrar o serviço da nossa dívida externa. Os erros do passado serão partilhados com os atuais credores de Portugal mas esta opção conduzirá igualmente a um futuro difícil. Teremos de viver temporariamente quase sem financiamento externo e o pouco que obtivermos estará dependente do saneamento das contas públicas. Em suma, dividem-se os nossos problemas com os credores mas seremos igualmente forçados a emagrecer coletivamente com perda da nossa credibilidade externa. Cabe-nos a nós decidir qual o rumo que queremos tomar…

Joaquim Cadete, Economista

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