Homilia do bispo de Aveiro na peregrinação anual ao Santuário de Nossa Senhora de Vagos

Isaías 9, 1-6

1.Nesta segunda – feira depois de Pentecostes, vimos como peregrinos ao Santuário de Nossa Senhora de Vagos. Cumprimos e renovamos uma antiga, bela e já habitual tradição, memória sagrada das promessas feitas pelos nossos antepassados.

 Saúdo-vos, irmãos e irmãs peregrinos, desta Igreja de Aveiro e da Igreja irmã de Coimbra. Saúdo os irmãos sacerdotes e diáconos, na comunhão do ministério a que Deus nos chamou. Saúdo as Autoridades locais presentes do nosso concelho de Vagos e de Cantanhede. Trazemos os mesmos sentimentos que ao longo dos séculos firmaram os passos e afirmaram a fé de tantos que nos precederam na vida e se fizeram peregrinos deste belo Santuário da Mãe de Deus e Mãe da Igreja, Senhora da alegria e da esperança.

Viemos para rezar, para conviver e para fazer festa. Unimo-nos à volta do lema da terceira etapa do Plano Diocesano de Pastoral: Igreja Diocesana orante é lugar de Esperança, que anteontem na Vigília do Pentecostes congregou, na Sé de Aveiro, toda a Diocese, numa intensa e criativa experiência de fé e de comunhão.

Centramo-nos na Eucaristia, memorial vivo do mistério pascal. Sabemo-nos convocados e reunidos em nome do Senhor, nosso Deus e nosso Pai, para escutar a sua Palavra, que em Jesus, seu Filho, se fez Boa Nova para todos os tempos e lugares. Estamos aqui para saborear o dom do Espírito Santo, que habita em nós desde o nosso batismo.

A hora é de peregrinação a anunciar caminhos de missão, radicada na força do Evangelho e voltada para o mundo a quem somos enviados como comunicadores da fé, da esperança e do amor.

2. Somos Igreja orante, reunida à volta de Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe. Esta Peregrinação é disso uma expressão bela e verdadeira. Sentimos necessidade de rezar. Apercebemo-nos progressivamente da centralidade da oração na nossa vida e na vida das nossas comunidades. Procurámos descobrir na dimensão litúrgica e celebrativa e na religiosidade popular o nosso alimento espiritual.

A oração é a alma do culto cristão. É parte constitutiva da vida, da celebração, da festa e do testemunho dos crentes. Na humildade, rezamos pedindo; na esperança, rezamos agradecendo; na alegria, rezamos louvando; nas horas de fragilidade, rezamos implorando perdão; na comunhão de irmãos, rezamos construindo comunidade; no silêncio da contemplação, adoramos Deus fonte de vida.

3. Vivemos numa sociedade em mudança, numa cultura a exigir presença atenta de todos e empenhamento lúcido dos cristãos, num momento de dificuldades sociais e de privações graves no seio de muitas famílias, a impor respostas urgentes, solidárias e criativas.

Caminhamos para o Santuário de Nossa Senhora de Vagos, abençoado Solar da Mãe de Deus. Trazemos connosco as cores próprias dos carismas da vida, da fé, do trabalho, dos sonhos, projetos e provações, tristezas, das dores e dos sofrimentos de todos nós

4.Escutamos a Palavra de Deus. O profeta Isaías consola um povo sem coragem, apesar da liberdade de novo conquistada, após o duro cativeiro da Babilónia, e relança este povo no caminho da esperança. Um povo livre e peregrino, para quem as casas são tendas instaladas em campo aberto. Este júbilo toca a nossa vida, convidando-nos a colocarmo-nos ao serviço da Boa Nova.

A alegria jubilosa a que Isaías nos convida é uma alegria fundada em Deus. Um Deus que nos oferece como desígnio uma sociedade nova. Este Deus é no olhar confiante do profeta como um pai atento que lhe dá vida abundante; é como uma mãe terna que consola, afaga e acaricia.

É esta mesma alegria que Paulo recomenda ao discípulo Timóteo ao enaltecer a importância da oração essencial ao ministério do anúncio do Evangelho.

A alegria a que Deus nos chama e a força da oração não deixam que o medo e a angústia sejam nossos companheiros de viagem.

Aqueles que a vida feriu e aqueles a quem o desemprego, a doença, as privações e as provações fragilizam têm de encontrar em cada um de nós e nas nossas comunidades um testemunho, um rosto e um coração deste Deus que nos consola, anima e fortalece neste caminhar na esperança e na alegria.

5. É de fé e de confiança esta Peregrinação. Acreditamos que o Espírito Santo, que ontem celebrávamos na Solenidade do Pentecostes nos foi dado desde o nosso batismo; acreditamos que o Espírito Santo é a alma da Igreja, a anima e purifica; acreditamos que o Espírito Santo enche a terra inteira e por todos reparte os seus dons; acreditamos que o Espírito Santo é a nossa luz e força e nos dá coragem para a profecia, audácia para crescer em santidade e ousadia renovada e criativa para a missão.

Nascido no coração de Deus, o projeto de salvar a humanidade continua a realizar-se na história, necessitando de homens e mulheres que nele acreditem e colaborem com o jeito terno e materno de Maria, Mãe de Jesus.

Hoje celebramos a festa litúrgica de Santo António de Lisboa, glorioso e exemplar testemunho de quem ouviu a voz de Deus e se tornou mensageiro credível e pregador corajoso da Palavra de Deus.

Esta é uma hora de gratidão ao Senhor pelo trabalho realizado por tantos homens e mulheres, a exemplo de Santo António, em prol da missão. É tempo de reavivar o ardor, o zelo e o entusiasmo pela missão ao serviço do anúncio corajoso do Evangelho. É o momento de olharmos a partir daqui o futuro com confiança e abrirmos horizontes novos de missão às nossas «Igrejas locais, sujeito primeiro da missão».

Demos visibilidade ao bem realizado nas nossas comunidades cristãs e movimentos apostólicos, intensifiquemos o nosso esforço de formação e de educação da fé, abramos caminhos à evangelização para lá das fronteiras do quotidiano, façamos pontes de diálogo com os que não creem e saibamos ir em gestos e sinais, em caminhos novos não andados e em átrios ainda desconhecidos, ao encontro dos que agora chegam às nossas terras ou daqueles que há muito já vieram e de quem ainda ninguém se apercebeu.

É urgente encontrar mensageiros e trabalhadores que se disponibilizem para serem enviados. Que sejam testemunhas de docilidade, de fidelidade e de generoso serviço e deixem nos trilhos da missão as marcas vivas de gestos de amor, de doação, de partilha e de entrega e os sinais redentores da cruz de Cristo que nos dá força para lutar pela paz, pela caridade, pela justiça e pela verdade.

É urgente a missão vivida em simplicidade, oportunidade, sabedoria. Todos temos consciência de que “a seara é grande e os trabalhadores são poucos” ( Lc10, 2).

Se assumirmos a missão como anúncio e testemunho do amor de Deus pelo seu Povo, que em Cristo nos deixou o modelo mais belo deste serviço evangelizador ao mundo, veremos nascer à nossa volta, perto e longe de nós, «uma Igreja bela, verdadeira casa de família, sensível, fraterna, acolhedora e sempre apressadamente a caminho (Lc 1, 39), mãe comovida com as dores e alegrias de filhos e filhas, cada vez menos em casa, cada vez mais fora de casa, a quem deve fazer chegar e saber envolver na mais simples e comovente notícia do amor de Deus».( Carta Pastoral sobre o Rosto Missionário da Igreja, n.º 8).

O Jubileu da nossa Diocese está próximo. Esta Peregrinação convoca-nos para a oração, fortalece-nos na comunhão e projeta o horizonte da nossa esperança e da nossa missão neste tempo jubilar que estamos a preparar. Confio a Nossa Senhora de Vagos este propósito de missão rumo ao Jubileu Diocesano.

 

6. Neste caminho a percorrer em ordem ao Jubileu e neste arco da vida cristã que em cada peregrinação anualmente aqui renovamos não vamos sós. Acompanha-nos, com a serenidade terna e com a presença discreta da Mãe, Santa Maria, a Senhora de Vagos, que hoje solenemente celebramos.

Encontramos em Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, a sabedoria maternal e a profecia evangelizadora, que se fazem escola a moldar em nós um coração que vê e sonha caminhos novos para o anúncio e testemunho da Boa Nova do Reino.

Santuário de Nossa Senhora de Vagos, 13 de junho de 2011

D. António Francisco dos Santos, bispo de Aveiro

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