Homilia do bispo de Aveiro na Vigília Pascal

«Sei que procurais Jesus. Não está aqui: ressuscitou» (Mt. 28, 5-6)

 

1.      Esta certeza está no centro da festa mais solene do ano litúrgico e faz brotar na Igreja um hino de louvor e um cântico de ação de graças. É certeza que dá origem à fé que somos convidados a afirmar pessoalmente e a viver em comunidade. É apoio dos nossos passos firmes, alicerçados em Cristo ressuscitado, nossa esperança inabalável e segura (Heb 6, 19).

Desejo sinceramente que em cada família e comunidade da nossa diocese se possa celebrar e viver esta Páscoa com os sentimentos que brilham nas aparições de Cristo ressuscitado.

A hora que vivemos,  marcada por acrescidas dificuldades para Portugal, exige de todos nós cristãos, à luz da Páscoa, um compromisso maior e uma disponibilidade efetiva para firmarmos os nossos passos no que é verdadeiramente essencial.

 

2.      A festa da Páscoa do Senhor é a nossa festa. Nesta solene Vigília Pascal, à medida que a noite cai, irrompe do coração das trevas um grito de luz, jorra do rochedo estéril uma nascente da água pura e ouve-se a partir do silêncio, pela palavra de Deus proclamada, a voz da criação, da libertação, da profecia e da vida nova.

O batismo introduz-nos nesta vida nova que Jesus nos oferece, que a Igreja celebra e alimenta, que a família cristã faz desabrochar e cultiva, que o esforço de cada um e o apoio da comunidade tornam possível. Saúdo com particular alegria os catecúmenos, nossos irmãos adultos, que hoje vão ser batizados. Faço extensiva esta saudação, envolvida de alegria e de gratidão, às suas famílias, padrinhos e a quantos os acompanharam na descoberta da fé e na preparação para este momento.

O encontro com a pessoa de Jesus é fundamental gerando um modo novo de ser humano, de estar na sociedade e de servir o bem comum. A vida não acaba, transforma-se; a cruz do condenado converte-se em cruz florida da Páscoa; o futuro pertence a quem ama e não a quem apenas pensa em si; o caos cede lugar à harmonia e o medo abre caminho à esperança.

A partir da ressurreição do Senhor, o valor dos sinais adquire uma dimensão nova – a de indicarem a presença discreta e eficaz d’Aquele que faz aliança definitiva connosco e não desiste de estar na vida onde nos esperam vestígios da sua presença.

Esta mais-valia dos sinais brilha, de modo especial, na vida da Igreja, na oração e na celebração dos sacramentos. É, sobretudo, na eucaristia que se verifica esta presença admirável. O nosso encontro com o Ressuscitado faz-se em comunidade que cresce na fé, na esperança e no amor, que celebra e reza, que se reanima e revitaliza, que reforça os laços de fraternidade, que se abre à sociedade e aceita ser enviada em missão.

3.      A certeza da ressurreição de Jesus manifesta-nos o poder de Deus e chama-nos a um ato de fé quotidiano, vivido no contexto concreto da família, do trabalho e da realidade complexa do nosso tempo.

Todos sentimos que neste tempo confuso e fragmentado por tantas e desnecessárias divisões, diminuem as esperanças de prosperidade e aumentam as inquietações perante o futuro e isso gera ansiedade nas famílias a braços com acrescidas dificuldades e provoca perplexidade sobretudo nos jovens para quem o futuro é mais inseguro.

Esta ansiedade pode conduzir-nos a sobressaltos e conflitos sociais que coloquem em questão um pacífico e sereno viver comum. Precisamos neste momento da sabedoria, da lucidez e da determinação de todos para que deem ao diálogo a chave da harmonia e da concertação entre todos os cidadãos e para que um futuro de consenso, de justiça e de progresso seja possível.

A fé, a esperança e a caridade cristãs, radicadas na Páscoa de Jesus, têm uma palavra a dizer na vida da Igreja de todos os dias mas também no rumo do nosso viver como País.

A festa da Páscoa comporta uma riqueza inesgotável. Estamos convocados para, à luz da Páscoa, estarmos presentes e ativos em todos os domínios da vida social, para que, também, aí brilhe a alegria, a paz e a vida nova do Ressuscitado.

Os cristãos não se podem contentar em serem simples servidores de causas generosas. Somos defensores de uma autêntica conceção da vida e da dignidade humana em todas as suas dimensões; devemos participar nos esforços comuns para que haja equidade e justiça na nossa sociedade e para que o ser impere sobre o ter; temos responsabilidades na consciência coletiva a criar para que se eduquem as novas gerações para uma vida sóbria, para uma partilha solidária, para uma responsabilidade universal na construção de um mundo melhor.

4.A nossa Caminhada diocesana nesta etapa pastoral, em que nos propomos ser Igreja orante, lugar de esperança para o mundo, entra agora na segunda fase. Firmar os nossos passos e afirmar a fé n’O Ressuscitado é vencer a tentação do individualismo e viver para o amor; é percorrer o caminho da luz; é assumir atitudes coerentes com a novidade que o Senhor Ressuscitado nos oferece; é ouvir a voz do Anjo junto do Sepulcro vazio que diz: «Não tenhais medo; sei que procurais Jesus, o Crucificado. Não está aqui: ressuscitou como tinha dito. Vinde ver o lugar onde jazia. E ide depressa dizer aos discípulos: Ele ressuscitou» (cf Mt 28. 1-10).

Esta é a bela e necessária certeza que aqui vivemos e celebramos nesta Vigília pascal e que a partir daqui anunciamos como missão a assumir e a viver com renovado entusiasmo e ardor.

Uma Santa e Feliz Páscoa para todos. Aleluia.

Sé de Aveiro, 23 de abril de 2011

D. António Francisco dos Santos, Bispo de Aveiro

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