Bento XVI apresenta cruz como «sinal luminoso» do amor
Lisboa, 22 abr 2011 (Ecclesia) – Bento XVI presidiu esta noite à tradicional Via-Sacra de sexta-feira Santa, no Coliseu de Roma, lembrando o sofrimento das crianças e a “mentira” na sociedade de hoje.
Na oração inicial desta celebração, alertou-se para a “desordem do coração” que “desfigura a ingenuidade dos pequeninos e dos fracos”.
O Papa falou ainda das “várias máscaras da mentira” que “ridicularizam a verdade” e “as lisonjas do sucesso” que sufocam o “apelo íntimo à honestidade”, bem como de um “vazio de sentido e de valores” na educação.
Durante a cerimónia, aludiu-se ao “peso da perseguição contra a Igreja de ontem e de hoje, a perseguição que mata os cristãos em nome de um deus alheio ao amor e a que mina a sua dignidade com «lábios mentirosos e palavras arrogantes»”.
“Jesus carregou o peso da perseguição contra Pedro, aquela contra a voz clara da «verdade que interpela e liberta o coração». Jesus, com a sua Cruz, carregou o peso da perseguição contra o seus servos e discípulos, contra aqueles que respondem ao ódio com o amor, à violência com a mansidão”, assinalava a meditação.
No final da celebração, Bento XVI apresentou um convite a meditar sobre o “silêncio da cruz, o silêncio do amor, que leva o peso da dor”.
A cruz, que parece uma “derrota”, disse, “não é o sinal da vitória da morte, mas o sinal luminoso do amor”.
“A cruz fala-nos do amor supremo de Deus”, indicou, falando no “princípio da nova esperança”.
A autora dos textos lidos durante a Via-Sacra, Maria Rita Piccione, quis dar espaço “à voz da infância, por vezes insultada, magoada, explorada”, não só devido aos abusos sexuais, “pois o campo é muito amplo e diz respeito à toda a humanidade”.
A monja de clausura italiana referiu à Rádio Vaticano que a redação dos textos foi inspirada pelos crentes e por “todas as pessoas”, bem como pelo “coração humano”, que descreveu “como um laboratório no qual se decidem o destino do que acontece em nível muito mais amplo”.
A publicação com os textos, distribuída às pessoas presentes na celebração, incluía imagens de Elena Manganelli, que à semelhança da autora das meditações pertence à congregação agostinha.
A Via-Sacra, que se realiza sobretudo nos tempos penitenciais, consiste em evocar espiritualmente o trajeto que Jesus realizou em Jerusalém até à sua morte e sepultura com momentos de meditação e oração em várias etapas, chamadas estações, habitualmente 14.
No início de cada estação, aparecia “uma frase muito breve que pretende oferecer a chave de leitura da respetiva estação”.
“Podemos recebê-la como que vinda de uma criança, numa espécie de apelo à simplicidade dos pequeninos que sabem captar o coração da realidade e num espaço simbólico de acolhimento, na oração de Igreja, da voz da infância por vezes ofendida e explorada”, pode ler-se na apresentação das reflexões.
Correspondendo a um desejo da autora das meditações deste ano, duas crianças leram as introduções a cada estação.
A cruz foi transportada ao longo do percurso, entre outros, pelo cardeal Agostino Vallini, vigário do Papa para a diocese de Roma; uma família romana e outra da Etiópia; duas monjas agostinhas; um franciscano e uma rapariga egípcia; um doente em cadeira de rodas e dois frades da custódia da Terra Santa.
O Papa pede todos os anos a um autor diferente para redigir as reflexões da celebração, seguida por dezenas de milhares de peregrinos com velas na mão que se concentram junto ao Coliseu, na capital italiana, e por milhões de pessoas em todo o mundo, através dos meios de comunicação social.
RM/OC