Francisco Sarsfield Cabral afirma que «não havia condições para seguir outro caminho»
Lisboa, 25 Mar (Ecclesia) – O presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, deverá convocar “eleições antecipadas” após o primeiro-ministro ter apresentado a demissão do cargo, considera Francisco Sarsfield Cabral.
Cavaco Silva recebe hoje ao longo da manhã e tarde todos os partidos com assento parlamentar, dois dias depois de José Sócrates ter renunciado.
Em declarações à Agência ECCLESIA, Sarsfield Cabral admite que este momento “não é bom para o país, não é bom para a confiança internacional”, mas assinala que “não havia condições para seguir outro caminho”.
Para o comentador de assuntos económicos da Renascença, na origem deste clima de turbulência política esteve a forma “muito estranha” como o novo Pacto de Estabilidade e Crescimento (PEC) foi negociado, “sem ter sido dita uma palavra aos portugueses, desde o presidente da República aos deputados, passando pelos parceiros sociais e até por muitos ministros”.
O comentador realça que a actuação de José Sócrates nesta matéria “levanta dúvidas”, porque foi claramente uma via aberta para a crise.
“Confrontar o líder do PSD com um facto consumado tornou impossível à oposição permitir a passagem de mais um PEC” aponta Sarfield Cabral, para quem o “nível de desconfiança” entre governo e oposição atingiu o limite, e agora vai ter graves consequências a nível político e social.
Nesta quarta-feira, o Parlamento aprovou cinco resoluções de rejeição do PEC proposto pelo Governo, incluídas em projectos de resolução da oposição, abrindo caminho à demissão do executivo liderado por José Sócrates.
Segundo Sarsfield Cabral, para além de “um maior nervosismo, uma maior inquietação internacional sobre a possibilidade de Portugal não conseguir financiar-se”, aumentou também o risco de Portugal ter de recorrer à ajuda externa.
“O programa do fundo europeu ligado ao FMI, que tem sido aplicado na Grécia e na Irlanda, é bastante negativo, ou seja, estes países não estão a recuperar quer a economia quer as contas públicas” avisa o jornalista, considerando que esta não seria uma alternativa positiva para o país.
“O ideal seria termos uma ajuda mais flexível e mais amiga do crescimento económico, o que será muito difícil, dadas as limitações de Angela Merkel, do seu eleitorado, e da oposição de países como a Finlândia, a Áustria ou a Holanda”, acrescenta.
Com a discussão da flexibilização do fundo europeu marcada apenas para daqui a três meses, é preciso encontrar alternativas de financiamento.
“No PEC4 previa-se o congelamento das pensões mais baixas, mas não se falava em suspender o TGV ou em eliminar instituições ou institutos públicos que gastam dinheiro do Estado para dar dinheiro às clientelas políticas”, indicou Sarsfield Cabral.
No entender do comentador, se o próximo Governo conseguir cortar nas áreas certas, “talvez se evitem cortes sociais mais gravosos, embora 75% dos gastos do Estado se centrem, sobretudo, em salários e apoios sociais”.
“Esperemos que haja uma distribuição mais justa dos sacrifícios”, concluiu.
Esta quinta-feira, D. Manuel Clemente, bispo do Porto afirmou que a actual crise política e económica do país obriga a uma exigência reforçada dos agentes políticos e de toda a sociedade civil.
“Não devemos limitar-nos a olhar para estes acontecimentos como se víssemos um espectáculo mediático, porque os personagens somos nós”, disse, à margem da apresentação do livro «É Este o Tempo – A experiência da Missão».
JCP/RR/OC