Diáconos permanentes para a diocese de Setúbal

Jonas Cardoso, um dos dois leigos casados que vai ser ordenado diácono permanente, recorda a sua história vocacional e antevê o futuro

Lisboa, 08 Jan (Ecclesia) – Entre preces e incertezas, Jonas Cardoso demorou quase um ano e meio a aceitar o convite para ser diácono permanente, um ministério invulgar na Igreja Católica por permitir a leigos casados assumir algumas das funções atribuídas aos padres.

Jonas Cardoso, de 45 anos, é casado há 21, tem quatro filhos, e amanhã vai ser ordenado diácono para o serviço da diocese de Setúbal, juntamente com Domingos Oliveira, leigo que também recebeu o sacramento do Matrimónio.

“Há cinco anos, o meu prior de então lançou-me este desafio de vir a ser diácono permanente. Estive quase um ano e meio a dizer que não”, contou à Agência ECCLESIA.

Um ‘não’ sempre aberto ao ‘sim’: “Fui rezando com a minha mulher, com os meus amigos, fui fazendo este discernimento, este caminho de abandonar-me”.

O percurso de Jonas Cardoso, actualmente ligado à paróquia de Castelo de Sesimbra, esteve sempre “dentro e ao serviço da Igreja”, como chefe de escuteiros, responsável pela catequese, regente de coro, membro do Conselho Pastoral e no apoio aos mais desfavorecidos: “Estava disponível para tudo o que fosse necessário fazer”, diz.

A decisão chegou inesperadamente, depois de uma reunião do Conselho Pastoral da paróquia, estrutura consultiva presidida pelo pároco e constituída por leigos em representação dos movimentos eclesiais.

“O prior pediu para que o Conselho Pastoral elegesse um homem casado para o diaconado permanente”, recorda Jonas Cardoso, que regressou a casa convencido que o assunto estava encerrado: “Dormi completamente descansado, depois de um ano e meio de preocupação, luta e oração”.

Mas a surpresa estava ainda para chegar: “Na manhã seguinte, o prior telefonou-me para me dizer que a única pessoa que não tinha votado em mim tinha sido eu”.

“Foi um momento decisivo. Eu achava que a comunidade nunca iria olhar para mim porque havia gente muito mais digna do que eu, com muito mais caminho, santidade e estudos. E diante do sacrário, disse finalmente: ‘Senhor, se é isso que tu queres, aqui estou’”.

Nos encontros semanais que teve durante os quatro anos de formação descobriu “a maravilha que é beber da ciência que estuda a Palavra de Deus”, mas sobretudo ficou a conhecer os seus “limites”, ao mesmo tempo que aprendia a ser mais “humilde” e “modesto”.

Ontem, no fim do retiro que antecede a ordenação, o bispo de Setúbal, D. Gilberto Reis, disse-lhe: “Vamos pôr a Ordem no teu casamento”.

Os diáconos permanentes incluem-se no reduzido número de membros da Igreja Católica que podem receber os sacramentos do Matrimónio e da Ordem, este último dividido em três graus: diaconado, presbiterado (padres) e episcopado (bispos).

“O primeiro sacramento a que tenho de responder é ao Matrimónio. A família tem de estar em primeiro lugar”, acentua Jonas Cardoso, que conta com o apoio da mulher.

O acréscimo de tarefas ao serviço da Igreja que o diaconado implica traz ao casal alguns “receios”, dado que as suas vidas, preenchidas com compromissos familiares e profissionais, “ainda se vão transformar mais”.

Mas Jonas Cardoso não deixa que esses medos o paralisem: “A graça recebida no sacramento é tão grande, é tão superior a tudo, que nada me está a preocupar”.

O ano de estágio vai ser cumprido na paróquia de Castelo de Sesimbra, com as funções previstas para os diáconos: colaboração com o bispo e os sacerdotes nas celebrações litúrgicas, em alguns sacramentos e na acção caritativa.

O futuro diácono diz querer ser “um sinal de Cristo”, especialmente para as pessoas “que mais precisam de uma palavra, de um conforto e, quem sabe, de uma sopa quente”, sem esquecer aqueles “que não fazem parte da Igreja Católica”.

RM

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