Jornadas juntaram teologia e psicanálise

Psiquiatra, especialista em ciências da educação e historiador falam sobre a condição biográfica do ser humano

“O que de mais eloquente alguém nos pode dizer de si mesmo é contar-nos a sua história”, afirmou hoje o psiquiatra João Seabra Diniz sobre a importância das biografias para a identidade pessoal e comunitária.

Desde as epopeias que influenciaram alguns dos escritos bíblicos até aos Lusíadas, a evolução das civilizações e do psiquismo está marcada por grandes narrativas – por exemplo sobre as origens do universo –, e estas, por seu lado, fundamentam-se em pequenas histórias, lembrou o conferencista durante a 2.ª Jornada de Teologia Prática que decorre esta Sexta-feira na Universidade Católica, em Lisboa.

O presidente da Sociedade Portuguesa de Psicanálise salientou que “alguém cuja história não se conhece é um enigma inquietante até que se nos revele como narrativa”, tendo mencionado a importância do encontro entre “quem conta uma história” e “quem a ouve”.

“É na relação que tudo acontece na vida psíquica”, afirmou João Seabra Diniz, para quem o trabalho do psicanalista consiste em ajudar o paciente a encontrar um fio condutor para as suas experiências: “é preciso uma história que, ainda que não seja real, faça sentido para a pessoa”.

Para Maria do Loreto Paiva Couceiro, uma das três intervenientes do painel “A condição biográfica – Aproximação interdisciplinar”, as histórias de vida “podem ser encaradas como uma prática científica de conhecimento vital”.

Na perspectiva das Ciências da Educação, as histórias de vida articulam temporalidade, narrativa e sujeito em formação, lembrou a professora aposentada da Universidade Nova de Lisboa.

“As biografias estão na moda, mas, para o historiador, existe uma inacessibilidade ao eu protagonista dos acontecimentos”, salientou por seu lado António Matos Ferreira.

O acesso aos itinerários de vida deve por isso fazer-se sobretudo “pela apreciação da envolvência, das relações e das redes” em que se inserem os percursos pessoais, frisou o director adjunto do Centro de Estudos de História Religiosa.

“Uma relação é uma experiência inesgotável”, escreveu António Matos Ferreira na síntese da sua intervenção, acrescentando que “o fio frágil da pesquisa historiográfica” consiste no “rigor da disciplina de interrogação”.

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